MEMÓRIAS E DATAS QUE MARCARAM VÁRIOS ACONTECIMENTOS NA NOSSA TERRA

 

Coisas e Gentes da Nossa Terra

 

Acontecimentos vários:

Telefone Público e Particular

O primeiro telefone público foi  instalado em Stª. Valha por volta de 1950 na casa de Lafaiette Alves, na casa de habitação do falecido Manuel Vaz (Mudo) e outros, no bairro do Pontão. Posteriormente, passou para a  casa de Benjamim Picamilho no mesmo bairro, a seguir, para a taverna/comércio de Adelino Melo Alves (agora casa de Zé Murteira - Cacete -), e, por último, penso, início da década de 1980), para a taverna/comércio de António Teixeira, no início da rua da Freixa. Mais tarde, os modernos telefones públicos foram instalados em outros locais, mas já sem o interesse comunicativo de outros tempos.

Relativamente aos “particulares”, pensamos ter sido, também na década de 1960, nas habitações de Manuel do Nascimento Barreira, Amândio Lopes (Cerca) e Casa dos Ciprestes.

Correio ao domicílio:

Inicialmente, a mala (saco) de transporte do correio do posto dos CTT de Vilarandelo para a nossa aldeia e anexas, era transportada diariamente a pé e às costas. Meio de transporte bastante pior e que nos fazia lembrar o antigo sistema de transporte em charrestes puxadas por cavalos, conhecido por  “Mala-Posta”, extinto e 1797. O último “correio”, como era chamado na altura, foi  Victor Fernandes, também conhecido carinhosa e respeitosamente por “Kiko”. Lembro-me desse tempo e dessa forma de transporte, década de 1960, até início da década de 1970. A partir dessa altura, passou a ser transportado diariamente e ao final do dia, mas já pelo autocarro, carreira, como vulgarmente o povo lhe chamavam.

O correio, transportado em sacos de lona, era depositado em casas particulares, já contratadas, e lido, ao final do dia e à hora marcada, com a presença, de, pelo menos, uma pessoa de cada casa, aquelas poucas que normalmente costumavam receber correspondência; a restante maioria eram mirones. As casas de distribuição e caixas de depósito do correio dos CTT, de que nos lembramos todos, foram as seguintes: Casa de Raul Videira, comércio e casa de Lafaiette Alves, nos bairros dos Ciprestes e Pontão; de Benjamim Picamilho (Pontão); Comércio/Taverna de Adelino Melo Alves (Sobreiró), que também foi explorada por tempo curto (início da década de 1970), por Domingos Mosca Pires e irmão Fernando, e, por último, o Comércio/Taverna de António Teixeira. A partir dessa data, o correio passou a ser distribuído no actual sistema.

Também o jornal diário nacional com as notícias que recebia o professor Carolino Augusto Afonso e o padre João Ferreira chegava juntamente com o correio ao final do dia, ou, por vezes, no dia seguinte. Mais tarde, a partir de finais da década de 60, Raul Videira também o começou a receber as notícias da mesma forma. Havia mais um ou outro que também lia o jornal, mas não com a regularidade destas pessoas.

Dos três, só o professor Carolino é que não vendia as folhas do jornal à unidade depois de o ler, particularmente para embelezar os louceiros das cozinhas; era costume oferecê-las aos mais pobres quando alguém lhas pedia. De igual modo o Padre João, através de sua criada, senhora Palmira. Já o senhor Raul Videira, não era costume oferecê-las. Recordo-me perfeitamente de vender cada folha a um tostão, o mesmo que 10 centavos.

Luz Eléctrica:

A luz eléctrica pública e particular na nossa aldeia foi inaugurada em 28-04-1967, ao mesmo tempo da das aldeias de Barreiros e Soním, pouco tempo depois da conclusão da construção das primeiras grandes barragens hidroeléctricas da nossa região, particularmente “Pisões” de Montalegre em 1966. Uns anos antes, “Picote” de Miranda do Douro em 1958 e “Bemposta” de Mogadouro em 1964. Recordo aqui o nome de alguns conterrâneos nossos que ainda trabalharam na construção da Barragem de Bemposta em 1962: Lafaiette Alves, João Atanázio, Fernando Alves, entre outros. Contou-me João Atanázio do Br. Dos Ciprestes que nesse trabalho chegaram a ganhar diariamente em trabalho nocturno cerca de 100$00 (agora: 0,50€), muito dinheiro para a época, tendo em conta que a jeira normal de sol-a-sol na nossa freguesia era de +- 18$00  (agora: 0,09€).

Essa primeira energia eléctrica que chegou à nossa aldeia, proveniente da Subestação do Vidago, era produzida na Barragem do Varosa, Lamego, que também alimentava outras localidades do nosso concelho, tais como: Valpaços desde 1953; Poçacos, Vassal, Sanfins e Carrazedo de Montenegro desde de 1957 e ainda Vilarandelo, Sá e Ervões desde 1963. Depois de 1967 seguiram-se progressivamente outras sedes de freguesia. Só bastante mais tarde é que vieram as anexas e outras pequenas povoações, tais como: Gorgoço em 1976 e Pardelinha em 1977, mas teve a população das duas localidades de suportar o custo do projecto do engenheiro, dizendo a Câmara, não ter dinheiro (orçamento) disponível para o fazer. As gentes de Monte-de-Arcas não o quiseram fazer e tiveram que aguardar mais um ano pela ligação e fornecimento da luz. Nessa época ainda não existia a EDP e quem coordenava este serviço era uma empresa que se chamava “ (Ch)Xenop?”. O electrecista chefe de Valpaços era o senhor Amílcar Mesquita.

Ainda se recorda bem muita gente da luz eléctrica pública e particular na Vila de Valpaços ser fornecida de meados da década de 1920 a 1953 por dois geradores puxados por dois motores a gasóleo. Só trabalhavam diariamente das 8 às 24 horas.

A partir então dessa data  (1967) na nossa aldeia e outras mais, as candeias, os candeeiros e os lampiões a petróleo e azeite, começaram a ser pendurados na parede ou guardados na prateleira. Antes da inauguração, houve duas casas em St. Valha, que já tinham (alguma) luz eléctrica, fornecida por motor gerador: a casa onde habitava os falecidos: Professor Carolino Augusto Afonso e esposa Clotilde Augusta Ferreira Sarmento Afonso, (de familiares/arrendada ?) situada no largo da Igreja, agora da família Parauta (Álvaro e Agostinho), mas só com uma lâmpada na sala de jantar, e de Manuel Lopes, mais conhecido por Amândio Lopes, ex-Presidente da Junta de Freguesia, (do tempo da ditadura), casa agora da família do falecido Cândido dos Santos. Os motores/geradores só eram ligados algumas horas durante a noite.

O professor Carolino, homem culto, de posses, de reconhecida idoneidade, influência social e até política na época, foi proprietário ao mesmo tempo de duas casas, uma, situada na rua dos Ciprestes, que a família (filha Margarida Isilda Sarmento Afonso) ainda hoje conserva, e a outra, na Quinta da Teixogueira, ambas duas com excelentes condições habitacionais na época. Porém, ao longo de várias décadas que residiu em Santa Valha, e até ao seu falecimento no ano de 1966, nunca chegou a morar em nenhuma das referidas. 

Houve também dois ou três petromáx(es) a petróleo, com manga de vidro, e uma bomba incorporada, que servia para injectar e vaporizar o petróleo até à camisa e que gerava uma forte luz. Um deles pertencia a Laudemira da Conceição Ferreira da Cunha (Cagigal), (avó materna do Lilo). Coisas só de ricos diziam alguns! Lanternas a pilhas, as que existiam contavam-se pelos dedos de uma mão.

No dia da inauguração da luz eléctrica (28 de Abril de 1967), aconteceu um caso insólito e caricato,  que foi o seguinte:

Na tarde desse dia, na praça, junto à Capela, no decorrer do discurso de inauguração proferido pelo Presidente da Junta de então, Manuel Lopes, que já anteriormente referimos ter sido mais conhecido na freguesia por “Amândio” Lopes, (reformado da Guarda Fiscal da ex-Colónia de Angola), alguém do adjunto que assistia, atirou uma pedrada, cuja pedra foi bater na cabeça do presidente, tendo ele exclamado em voz alta o seguinte: - aí….!?!?!?, que já me racharam a cabeça!!!!. Dos presentes, ninguém se manifestou. Teria sido, porventura, algum amigo dele da época que lhe queria bem…, atendendo ao feitio que tinha para com os seus munícipes: grosseiro, arrogante e prepotente, ou seja: um verdadeiro homem do tempo da ditadura, onde a democracia, o voto e a voz do povo, não existia.

Durante os muitos e longos anos seguintes, nunca se chegou a saber quem na realidade atirou  a tal pedrada, se bem que sempre se desconfiou de alguns da multidão. Hoje, volvidas mais de quatro décadas passadas, alguns já sabem quem na realidade praticou o acto. Dizem ter sido um amigo dele que reside no bairro dos Ciprestes. O segredo foi sempre bem guardado, tendo em conta que se tratou de um crime e ainda dos poderes severos conferidos na lei no regime da ditadura, caso viesse a ser denunciado.

Estamos no ano de 2010 e só este ano é que a velhinha rua dos Olharigos, que liga os bairros dos Ciprestes e Sobreiró é que foi electrificada. A última da aldeia a receber a iluminação pública, se bem que só há uma década atrás e já na presidência da Junta de Jorge Castro, é que foi alargada e melhorado o pavimento para dar possibilidade à passagem de algumas viaturas.

Toponímia da Freguesia:

Por solicitação dos CTT para melhor distribuição da correspondência, as primeiras chapas de identificação dos bairros da nossa comunidade feitas em chapa de ferro ou zinco foram mandadas colocar por volta de 1984 ou 1985 na presidência da Junta de Manuel Guedes.

Mais tarde, por volta de 2006 ou 2008, a Junta presidida por Jorge Augusto de Castro veio a substituir a maior parte dessas (dúzia) antigas chapas iniciais de toda a freguesia por outras placas identificativas já com o nome de algumas ruas atribuídos que a Junta mandou fazer em painel de azulejo com o brasão antigo da Freguesia, símbolo esse, que em 2008 veio a ser rejeitado aquando do pedido de legalização desse brasão à entidade oficial com parecer da Comissão de Heráldica, em que o brasão e critérios do símbolo heráldico tiveram de ser novamente refeitos e aprovados em Assembleia de Freguesia por exigência dessa entidade, vindo então a ser aprovado oficialmente em Edital próprio do Estado, publicado em Diário da República, 2ª. Série- nº.179, de 16/09/2008.

No final de 2014 e início de 2015 a Junta de Freguesia presidida por Miguel Neves veio a dar por concluído o processo da toponímia em toda a freguesia, finalizando a atribuição dos nomes às ruas que ainda o não possuíam (já anteriormente aprovadas em Assembleia de Freguesia), com a colocação de placas modernas com o brasão da Junta e respectivo Código Postal.

 

Primeiros Fogões e Outros de Cozinha

Até aos primeiros anos da década de 1960, contavam-se pelos dedos de uma mão os fogões de cozinhar em toda a freguesia. Eram todos aquecidos a lenha e fabricados em ferro fundido. Por volta de meados dessa década, começaram então a aparecer as primeiras máquinas a petróleo, de uma só grelha de forma arredondada, onde o petróleo era injectado em vapor por um bico injector através de uma bomba incorporada. Seguiram-se logo após, os primeiros fogões (sem forno), conhecidos por grelhas, de dois e três bicos, mas que já funcionavam através de gás butano em garrafas de 6 e 13 quilos, e nos primeiros anos da década de 1970, os então fogões a gás com forno incorporado.

Até meados da década de 70, mais de metade das famílias eram muito pobres. Até essa época, os pratos e as travessas de comer dessa gente, eram de alumínio ou esmalte e os (poucos) copos que havia para beber eram feitos de vidro muito grosso, iguais aos que serviam o vinho nas tavernas. Quase todos de casa comiam da mesma travessa. A maior parte bebia o vinho por canecas de barro preto, conhecidas por “pótas” ou por púcaros feitos de folha de chapa de zinco esmaltado. O caldo (sopa) era sempre comida em malgas (tigelas). Havia um ou outro ainda mais pobre que o comia em malgas de barro da extracção da resina dos pinheiros de cor alaranjada roubadas no monte. A maior parte dos garfos de comer eram todos feitos de ferro. As pessoas com mais posses já tinham para dias festivos garfos com dentes de ferro e cabo de madeira; um luxo para a época. Para lavar a loiça utilizavam os tachos ou alguidares de barro (normalmente) preto ou valsas de madeira. Também a partir dessa época as panelas de alumínio começaram a substituir os potes de ferro de três pés.

Primeiros Rádios na Freguesia:

Os primeiros rádios que apareceram na nossa freguesia remontam aos anos de 1945 a 1950, pertenceram aos senhores: Augusto “ da Quinta da Teixogueira”, Padre João Ferreira e ao Professor Carolino Augusto Afonso. Estas máquinas de som eram alimentadas por baterias, carregadas com um carregador com motor a gasolina.

O primeiro Gira-discos “a pilhas” apareceu por volta de 1962 ou 1963, pertenceu a Albino Santos, também conhecido por “Carrazedo”, que o trouxe de França, onde anos antes tinha emigrado. Seguiram-se outros nos anos imediatos, também de emigrantes: Eduardo Maia, Francisco Rôlo (Xico), João Atanázio (Polino), Carolino Ribeiro, Cesário Espiritosanto, entre outros.

Antes dos primeiros gira-discos a pilhas, já as Grafonolas que tocavam com discos em vinil de 33 rotações movidas manualmente a corda, tinham entrado na nossa aldeia. As primeiras novidades, pensamos do início do século XX (1900), pertenceram às seguintes pessoas: Avô materno de Victor Teixeira Neves, casa de Laudemira da Cunha (Cagigal) (avó materna do Lilo), Raul Videira, António Ribeiro (depois de vir do Brasil) e António Morais “Pedro”.

Ainda há pessoas que se recordam de alguns bailaricos feitos aos domingos (década de 1940) com música de grafonola, como por exemplo, junto ao comércio/taverna do falecido Sr. Armando Tender, agora casa de Lucinda Cardoso na rua dos Ciprestes, e o bailarico era no terraço da casa, que ainda hoje existe.

Em 1975, a família de Manuel Fontoura (filhos Jorge e Carlos) e o António Cagigal Neves (Tótó), regressados de Angola, trouxeram as primeiras aparelhagens de música, com gira-discos, toca-cassetes e rádio incorporados, incluindo as colunas de som. Esses moderníssimos e bem equipados aparelhos, foram nessa época, uma novidade e mais-valia para os bailaricos domingueiros.

Primeira Televisão na Freguesia:

O início das transmissões televisivas em Portugal foi no ano de 1957. A primeira, com ecrã a preto e branco, pertenceu a Manuel Lopes, também conhecido por Amândio Lopes (ex-Presidente da Junta de Freguesia), por volta de 1965, proprietário da casa/quinta que hoje é do falecido Sr. Cândido dos Santos. Demorava bastante tempo a aquecer as válvulas eléctricas para se ver a imagem e era alimentada por uma bateria e por um gerador, que também fornecia luz para casa, mas só na parte da noite.

Mais tarde, logo após a chegada da electricidade (1967), a dos comerciantes António Teixeira e Victor Teixeira Neves, e particular, na casa de Laudemira da Conceição Ferreira da Cunha (Cagigal) no Br. do Sobreiró. Ouvi dizer, que na altura, houve algumas pessoas da aldeia, que pagavam com trabalho, particularmente as mulheres e jovens, os poucos minutos que viam (a novidade) televisão na casa deste senhor Amândio Lopes, e que o aparelho estava quase sempre a avariar.

Recordam-se também alguns, que em 1966, vários populares (Victor Neves, Adriano Mata, entre outros), por ainda não haver luz, nem televisão, foram ver alguns jogos do mundial de futebol a Vilarandelo, e que a televisão, para o povo assistir, estava instalada no salão da Casa do Povo.

O início da transmissão de televisão “a cores” em Portugal deu-se em 1980 e o primeiro aparelho de televisão a cores a ser instalado em Stª. Valha, foi também nesse ano, no Café/Discoteca conhecido por “Bataklam” de José Maria Maia Gaspar, que existiu no Bairro de Stª. Maria Madalena, agora casa de Manuel Contins. Esse aparelho tinha a marca “Grunding”.

Primeiro Frigorífico:

O primeiro frigorífico que existiu na nossa aldeia, foi adquirido no Início da década de 1960  por Amândio Lopes (ex-presidente da Junta de Freguesia), que tinha recentemente regressado de Angola por já estar reformado.  Foi na casa que agora pertence à família do falecido Sr. Cândido dos Santos, pai, entre outros, de Camilo Santos. Funcionava a petróleo.

Primeira Máquina de Lavar Roupa e Lavadouros:

Estas máquinas modernas de lavar a roupa começaram a aparecer na nossa aldeia por volta de meados da década de 90 ou até mais.

A roupa era lavada à mão nos ribeiros ou em poças de regar perto das fontes, como, por exemplo, a dos Olharigos, no bairro do Sobreiró, a do Vilar, nos Cipreste, a do Outeiro, na Freixa e a do agora largo denominado de São João.

Em finais da década de 80 ou princípio do 90 a Junta de Freguesia construiu os lavadouros de cimento e tijolo do Outeiro/Freixa e do Pontão. Os do Vilar e Sobreiró só foram construídos no início da década de 2000. Contudo, o do Vilar, foi demolido em meados da década de 2000 por se encontrar bastante estragado, vindo  a ser substituído pelo actual de pedra que se encontrava soterrado um pouco mais acima, junto à fonte. Foi o primeiro construído na aldeia, provavelmente há um ou dois séculos atrás, atendendo a conta que ninguém se recorda da sua construção ou de ouvir falar dela.

Ouvi sim dizer a algumas pessoas mais idosas que já se constava na sua juventude que a fonte do Vilar, tanque de lavar e pia de beber os animais, tinham sido mandados construir pela Casa dos Ciprestes (conhecida também pela cada dos Sarmentos e Morgados) e oferecidos ao povo da aldeia. Tudo leva a querer isso, tendo em conta que foram construídos num enclave de propriedades suas.

No bairro dos Ciprestes, na rua, junto à fachada principal da casa da falecida Dª. Margarida, agora dos herdeiros de Manuel do Nascimento Barreira e esposa, chegou a haver até ao início da década de 80, uma pequena poça térrea de lavar a roupa e regar. A maior parte dessa água vinha da quinta contígua a essa habitação, mas só corria até meados do verão.

 

Maior Seca de que nos recordamos e outras Intempéries da Natureza.

A maior seca de que nos recordamos aconteceu nos anos de 2007 a 2009, com a maior incidência no final do verão de 2009. A partir do início do mês de Agosto de 2009, o abastecimento público de água ao domicílio foi diariamente fornecido pelos Bombeiros e ainda por uma cisterna puxada por um tractor, água extraída de dois poços da propriedade do pisão de Júlio José Teixeira, que mais tarde também deixaram de fornecer água.

O rio do Calvo e os ribeiros da freguesia secaram completamente em todos os seus leitos, assim como uma grande quantidade de nascentes e alguns poços “ mesmo antigos” secaram também. A água nos tubos das captações de abastecimento público quase já não corria. Contudo e felizmente que as fontes de mergulho de água potável, resistiram todas à seca extrema desse período.

Para compensar, o fim do mês de Novembro e todo o mês de Dezembro de 2009, e ainda, Janeiro, Fevereiro e Março de 2010, têm sido os meses mais chuvosos e até mesmo invernosos destas últimas décadas, com as águas a saírem por várias vezes dos leitos dos rios e ribeiros, vindo, desta forma, contribuir, para repor os caudais dos nascentes, rios e ribeiros em todo o país, se bem que também vieram dar imensos prejuízos em todo o país. A neve também apareceu com alguma intensidade nos meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro.

De acordo com a informação do Instituto de Meteorologia, Dezembro de 2009, foi o mês mais chuvoso dos últimos 100 anos e, Fevereiro de 2010, dos últimos 24 anos. Também Março de 2010 foi o mês mais frio dos últimos 24 anos. Todavia, quanto às temperaturas e de acordo com o Instituto: Julho de 2010, foi o mês mais seco dos últimos 24 anos e mais quente dos últimos 79, e ainda, a primeira quinzena de Agosto registou as temperaturas mais elevadas destas últimas décadas com temperaturas médias diárias de 32,8 graus centígrados ou Celcius, com 5 graus acima da média e, Setembro, foi o mês mais seco dos últimos 22 anos. Novos registos aconteceram recentemente: o verão de 2011 foi o mais quente e mais seco das últimas oito décadas. O Outono de 2011 e o inverno de 2011/2012 foram os mais secos desde a década de 1940. Fevereiro de 2012 foi o mês mais seco e excepcionalmente mais frio desde 1931. Março de 2013 foi o mês mais chuvoso dos últimos 82 anos, também de acordo com as estatísticas do Instituto Meteorológico (agora) do Mar e da Atmosfera e o verão de 2013 em Portugal Continental foi caracterizado por uma temperatura máxima corresponde ao 10º verão mais quente desde 1931. Com o Outono de 2013 sem chover rigorosamente nada, Janeiro e Fevereiro de 2014 foram os meses mais chuvosos dos últimos quase cem anos. O ano de 2014 foi o mais chuvoso dos últimos 25 anos.

Outrora na nossa aldeia os invernos chuvosos e nevosos eram consecutivos e a água para a rega da lavoura não faltava nos  poços, regatos e ribeiras(os). Ainda me recordo perfeitamente da água que vinha por um rego e caleiros cavados na rocha das “poças da Avessada” (serra) que atravessava inúmeras propriedades agrícolas e alguns montes, como, por exemplo: o monte conhecido por charguaçal, através da sua encosta poente e sul por cima do depósito da água da curva do pinheiro-manso até à estrada para regar uma parte dos campos da nossa aldeia, até mesmo algumas culturas de todo o bairro de Santa Maria Madalena até à Freixa, em que o rego da água que também passava na valeta da estrada para Pardelinha, atravessava a estrada por um pequeno aqueduto ou sumidouro perto da casa do senhor Maia “Serrador” e da agora casa de seu filho Eduardo Maia. Os peixes abundavam todo o ano em todas as nossas pequenas ribeiras(os) desde a foz até quase à nascente.

Ainda existem bastantes vestígios desse rego e caleiros, com mais de dois quilómetros de distância entre as poças a aldeia, e até mesmo ainda dentro da aldeia. Essa rega deixou de fazer-se desse local, por volta do início da década de 1970.

A rega que se fazia da água que vinha do regato das Lages ou Pala Furada, perto da eira das Lages, para regar propriedades da Dª. Helena Lobo, Alice Fernandes, João Pedrinho junto à estrada e café do Rui, Abadia e tantas outras contíguas. O rego vinha pelo caminho e depois dividia-se em dois, um também pelo caminho que seguia para os lados da escola/abadia e o outro atravessava a casa da Dª. Helena Lobo, Alice Fernandes perto da Adega e outros.

Ainda a poça da fonte dos Olharigos chegava a regar culturas de parte dos bairros dos Ciprestes e Igreja, chegando até mesmo perto do ribeiro da Freixa. Essa poça de regar e lavar a roupa era abastecida principalmente por um nascente situado um pouco mais acima da fonte, que também fornecia água para uma poça de regar contígua das propriedades de Américo Lopes e de Laudemira Ferreira (Cagigal).

A partilha/distribuição dessa água dos Olharigos “registada na altura” era feita da seguinte forma: do pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol de domingo pertencia a esses dois proprietários. O resto da semana pertencia ao povo em geral. O acesso público para passar e virar a água era feito por um canelho estreito, que ainda hoje existe, mas já quase soterrada e cheia de silvas. Esse antigo e forte nascente já não tem a capacidade de fornecimento de água outrora desde que foram removidas terras de uma propriedade mais acima no início da década de 2000, destinadas à plantação de uma vinha.

“ Santa Valha - Forte trovoada de granizo destruiu parte da agricultura:

Uma forte trovoada sobretudo de granizo e acompanhada de muita chuva, vento e relâmpados fortes abateu-se hoje sobre nossa aldeia por volta das 17h e 15m, segunda-feira, dia 23, com uma duração anormal de aproximadamente 20 minutos causou enormes prejuízos.

Esta enorme intempérie destruiu uma grande parte da produção agrícola, nomeadamente vinha, olival, frutas e outras pequenas culturas agrícolas, particularmente hortas. A maior incidência deu-se nos termos da Pala-forada, Lages, Cesteiro, Pedreira e outras do sul da aldeia, tais como: Canana, Valbemfeito, Santa Olaia, Cinzeira, etc.

Foi um fenómeno jamais visto nestas últimas décadas na nossa freguesia, incluindo parte das anexas de Gorgoço e Pardelinha, onde o granizo era tanto por todo lado e a maior parte dele de calibre superior a bolas-de-naftalina, que se podia apanhar e carregar com pás. A vinha e o olival foram os mais afectados, de tal forma que muitos agricultores depois de verificarem o estrago nos seus terrenos deram já a colheita do ano como feita, assim como também de parte do ano seguinte, sobretudo por elevados estragos na futura poda e limpa.

Também as ruas da aldeia, caminhos e campos agrícolas sofreram bastantes estragos com esta enorme intempérie, mas foi a lavoura a mais afectada e os nossos agricultores não possuem quaisquer seguros de apoio para atenuar prejuízos de fenómenos desta natureza, dado serem muito caros.

De referir todavia, que também no ano 2000 se abateu sobre a nossa aldeia uma tempestade forte de granizo, mas não vindo a causar grandes prejuízos por ter caído no período de inverno.

Após esta desgraça e tristeza agrícola, resta-nos desejar aos nossos conterrâneos, muita força, motivação e esperança no futuro.

Nota: Notícia do Site de Santa Valha de 23-06-2014. “

 

Nevadas ou Nevões na nossa terra:

Antes da década de 80 do século XX (1980), era regular na nossa aldeia caírem anualmente no inverno, nevadas ou nevões, que em certos locais a neve atingia mais de meio metro de altura e que duravam, por vezes, mais de 10 dias a derreter. Os mais de uma dúzia de rebanhos de gado que existiam, tinham que ser alimentados dentro dos currais no interior da aldeia, assim como as juntas de bois e outros animais de trabalho, mas as pessoas já se precaviam antecipadamente para estas situações. Por vezes alguns pastores de rebanhos de gado das localidades mais altas, como Pardelinha, Fiães e Monte de Arcas, para alimentar os animais, desciam para junto da nossa aldeia, sempre havia mais alguma coisa para dar aos animais.

Hoje em dia (2011), quando a neve chega a atingir a altura de 10 centímetros, já deixa se ser considerada uma nevada, para ser chamado de nevão, coisa que outrora era irrisória. O maior “nevão” que me recordo foi do início do mês de Janeiro dos anos de 1991 e 1992, sem bem que o de 1991 foi um pouco maior. A neve no centro da aldeia chegou a atingir 20 centímetros de altura. Depois, passaram-se vários anos sem nevar ou sem qualquer expressão.

Neste três últimos anos, tem nevado sempre alguma coisa, se bem na nas zonas mais elevadas, como Pardelinha e Monte Cerdeira, cai sempre bastante mais. Em 27 de Janeiro deste ano de 2011, a neve começou a cair com muita força e ininterruptamente das 07 horas até por volta do meio-dia, tendo chegado a atingir em certos lugares de Santa Valha, Gorgoço e Fornos do Pinhal, 20 centímetros de altura e até mais, bastante superior do que nos lugares mais elevados, como lugar de Monte Cerdeira, Pardelinha e até Vilarandelo. Facto jamais visto, afirmaram muitas pessoas da nossa terra. Também os mais jovens afirmaram que foi a maior nevada/nevão na nossa aldeia que até à data presenciaram.

 

Primeira Furgoneta de Carga:

1950/1951: de Agostinho Fernandes e Raul Videira.

Primeira Camião de Carga:

1947: de João Fernandes “ Pedrinho”. Mais tarde, Manuel do Nascimento Barreira.

Primeira Rectro - escavadora:

No início da década de 70 do século XX, da marca Ford, e pertenceu ao falecido Manuel do Nascimento  Barreira. Esteve bastantes anos na sua posse, mas pouco ou nada trabalhou na freguesia. Prestava serviços mais de aluguer em outros concelhos. Só bastante mais tarde, finais da década de 1980, é que Armindo Lampaça Parauta comprou uma, já muito antiga e gasta pelo trabalho, de marca Massey Ferguson ,de só tracção a duas rodas, que durou pouco tempo na sua mão. Em meados da década de 90, Gilberto Simão C. Domingues comprou uma, e Armindo Parauta, comprou novamente outra, no início da década de 2000.

Primeiro Transporte Público de Passageiros:

1955 ou 1957. Era conhecida por “Carreira”, metade do veículo era de passageiros e a outra de carga. Essa viatura de transporte era conhecida nessa altura por “Parpalhaça”.

Primeiro Táxi, ou Carro de Praça.

Foi em 1951 ou 1952. Esse meio de transporte público pertenceu inicialmente a Lafaiette Alves, que residia no largo do Pontão, antiga casa particular do Padre João. Mais tarde casa do falecido “Manuel Mudo”. A viatura tinha a marca “ Vanguard”. A seguir teve um “Plimout” de seis lugares. O motorista dessa primeira viatura pública foi Armindo da Cruz Pinto, respeitosamente conhecido na aldeia por Armindo “Caliboi”, - por ser natural de uma aldeia chamada  Cal de Bois do concelho de Alijó, tendo vindo muito jovem para a nossa aldeia em meados da década de 40, onde veio mais tarde a casar.

Essa praça de táxi, ou melhor, “carro de praça”, como a maioria do povo lhe chama, foi em 1953/54, vendido a Francisco Rôlo, pelo montante de vinte mil escudos (agora 100 €), que por sua vez (1956), a/o vendeu, incluindo a viatura, a Agostinho Fernandes.

Mais tarde, década de 1960, Francisco Rôlo veio a comprar novamente a praça de táxi, mas sem viatura, e colocou um automóvel  de marca Fiat 1400 ao serviço. Passados poucos anos da mesma década, trespassou novamente a praça sem viatura a Agostinho Fernandes, tendo, para o efeito, este adquirido um carro de marca Opel (Kadet ?).

Em finais da década de 70 ou início de 80, Agostinho Fernandes vendeu a praça, sem viatura a Domingos Mosca Teixeira, que a conservou até ao início do mês de Fevereiro de 2011. Consta-se, que o novo proprietário da praça é do concelho de Chaves, mais concretamente de São Lourenço. Santa Valha ficou, a partir dessa data, sem “táxi ou carro de praça”. Era uma viatura já bastante antiga, de marca Mercedes 300D (carroçaria alongada), de 7 lugares + lugar de condutor.

Primeira Bicicleta:

Ano de 1942. Este velocípede de duas rodas sem motor pertenceu a Armindo Afonso “Armindinho”, filho do professor Carolino Augusto Afonso. A seguir, 1957, de  Francisco Rocha Pinto, “Chiquinho, como ainda é conhecido na família”, médico no Porto, neto do falecido Sr. Raul Videira,  agora médico no Porto. No início da década de 1960, só nos recordamos de duas bicicletas a funcionar/pedalar, de marca Flândria “pasteleiras” como agora são  chamadas: a de António Neves (Tótó), e as de Fernando Mosca Pires, Armindo Picamilho e Artur Domingues Gonçalves todos estes do Br. do Pontão. Dois ou três anos mais tarde a bicicleta da menina “Zita”, neta de Adolfo Domingues (Simão) do Br. do Sobreiró, que residia nesse tempo em Angola, e que por vezes vinha passar férias a St. Valha. As antigas “pasteleiras” acima recordadas tinham nessa altura roda com dimensões 26 e 29.

Há muita gente que ainda se recorda de uma queda dessa época, com algumas escoriações pelo corpo à mistura, principalmente na cara, dada pela menina Marília Neves, (agora  professora do liceu já aposentada) na curva antes das Adufas, mesmo em frente ao (agora) nicho das Alminhas. Essa bicicleta era de Fernando Pires (cunhado), e o motivo da queda, deveu-se, a uma junta de bois que lhe apareceu de surpresa na curva da estrada, ainda em terra-batida.

Por volta de 1963, Paulo Moreira dos Santos (irmão de Camilo), que reside há muitos anos nos Estados Unidos como emigrante, construiu uma bicicleta toda em madeira, e um certo dia, ao dar a volta na curva da praça, vindo em roda livre das Adufas, não conseguiu fazer a mesma, e despistou-se juntamente com ela para a cortinha do Dr. Luís Lopes, agora da ex-professora (primária) aposentada Maria Raquel Barros Alves.

Em 1969, só existiam três a funcionar, as bicicletas de Fernando (Pardal), Elias Vergueira e Amílcar Rôlo (Lilo), e em 1970, duas, a de Elias e Lilo. Dada a escassez destes transportes, havia, nessa altura, aos domingos de tarde, quem pagasse (e bastante), dois escudos e cinquenta cêntimos (bastante dinheiro na época -  agora com a inflação:  0,50 ou 0,60 €), para dar uma volta, da praça, ao cemitério, e regresso.

Até finais da década de 60 só nos recordamos na aldeia de haver bicicletas portuguesas de marca Flândria, as tais pasteleiras como anteriormente referido. A partir dessa data, começaram a aparecer outras mais modernas, de marca Órbita.

Primeira Motorizada:

Foi de José “Zé” Cavalheiro, em 1950. A seguir a de Pedro Morais, que agora reside em Barreiros.

Primeiro Avião:

O primeiro avião a sobrevoar os céus da nossa terra, foi no ano de 1947 ou 1948. As pessoas, como nunca tinham visto nenhuma máquina voadora, diziam o seguinte: Lá vem a guerra!, lá vem novamente a guerra!. Poderia até já ser um avião comercial de passageiros, mas como a segunda guerra mundial acontecer entre 1939 e 1945, e tinha terminado havia ainda muito pouco tempo, as pessoas ainda associavam este (moderno) acontecimento ao da guerra.

Primeiro Computador:

Pertenceu a Carlos Vieira, adquirido no ano de 1998, pelo preço de duzentos mil escudos 200.000$00 (1.000,00 €). Preço muito elevado na época para a qualidade do material: capacidade de memória, conteúdos, programas, etc., informou-nos o próprio.

Primeira Antena Parabólica:

Foi no início da década de 1990, da Casa dos Sarmentos ou Ciprestes, como é vulgarmente conhecida. O prato da antena tinha uma largura de dois metros e custou cerca de 400.000$00 (2.000,00 €). Seguiram-se, passado pouco tempo, as dos senhores: Padre Alberto e Carlos Vieira. Este último, disse-nos, que o prato da sua antena tinha um metro de largura, e que custou na altura, 120.000$00 (600,00 €).

 Primeiro Telemóvel:

O primeiro telemóvel surgiu nos Estados Unidos no ano de 1973 e em Portugal em finais dos anos 80. Esta novidade de comunicação móvel, foi vista pela primeira vez na nossa terra nas mãos dos irmãos, António e Júlio José Teixeira. Eram telemóveis instalados nas viaturas, com um aparelho de comunicação receptor, ligado à rede móvel. O de António Teixeira, em 1987, custou 700 ou 800 contos (3.500 ou 4.000 €) e em 1991, o de Júlio Teixeira,  que custou 500 contos (2.500 €). Esses aparelhos com antenas exteriores, tinham muito fraco sinal de comunicação. Passados dois anos, substituíram-nos por outros aparelhos mais modernos, sem necessidade de central de ligação na viatura, mas muito caros, atendendo, sobretudo, à falta de rede de comunicação e do próprio material, mas era a novidade (luxo) da época.

Os primeiros telemóveis de residentes pertenceram: Daniel Castro e David Vergueira, pensamos, por volta de 1997. Um ano mais tarde, o de Carlos Vieira, que nos disse ter custado na altura 50.000$00 (escudos), equivalente a 250,00 €, muito dinheiro para tão fraca qualidade de material e comunicação. Pesavam bastante e a maior parte chegava a ter mais de um palmo de cumprimento. O indicativo da então única rede móvel nacional, TMN, era o 0676.

Primeira Máquina Fotográfica Digital: Foi de Carlos Alberto Dias Vieira, por volta de 2001/2002. Tinha a marca HP e custou a módica quantia de 350€, acrescido de 50€ do cartão. Muito dinheiro nessa altura para essa (quase) novidade. Disse-nos consumir as pilhas rapidamente e só dar para tirar trinta fotos.

São tudo isto datas e/ou momentos que marcaram as nossas vidas.

 

Santa Valha, 01-03-2011

(Última actualização em 01 de Março de 2015)