MEMORIAS E RECORDAÇÕES

 

 

*Quem não se lembra da saudosa ( falecida) Srª. Palmira . Foi empregada (" criada" como se dizia) da residência Paroquial (Abadia) até à data do falecimento do Sr. Padre João (1962) , conhecida por todos, por "mãe dos pobres", mulher simples , honesta , carinhosa, meiga , com todos os adjectivos de bondade e com um toque especial para a cozinha, e que afagava o estômago de muitos miúdos e até alguns graúdos. Residia (ultimamente) no Bairro do Pontão e que acolhia sempre nos seus aposentos as professoras, dado  na altura, por dificuldade de transportes e até económicas, eram obrigadas a  ter residência permanente nos locais de trabalho. Posteriormente, a Srª. Maria Cândida,”falecida recentemente” pessoa de enorme religiosidade e apego à igreja, passou igualmente a acolher professoras na sua residência. Também o ( já falecido) Dr. Carlos  (de Vilarandelo), que normalmente  vacinava os alunos, deslocando-se anualmente à escola,  e que alguns, sabendo no dia anterior, aproveitavam para faltar, parte do dia, “ com desconhecimento dos pais”, justificando ao professor (a), que tinham ido trabalhar para o campo a mando deles”. O Dr. Olímpio Seca, ( já falecido) médico do povo, como lhe chamavam, pensamos também ter vacinado os alunos , deslocando-se às escolas do concelho. De grosso modo, todos eles nos deixaram muitas recordações.

*Também não podemos deixar esquecida, a saudosa professora primária ( já falecida)  Dª. Margarida Lurdes da Silva, “filha da terra” -esposa do ( também já falecido) Sr. Manuel Barreira - ,  conhecida por todos,  por Dª. Guidinha, professora de pais e filhos, amiga , sincera,    respeitada e exigente , mas por vezes dura (no bom sentido), que tantos momentos felizes  de nostalgia deixou e ainda, e por último, a Prof. Dª. Artemira, já aposentada do ensino, a residir actualmente em Murça, pessoa muito amiga,  dedicada, metódica,  de fácil trato , mestra na arte de bem ensinar,  que sempre manteve uma empatia com  alunos e pais e de quem  toda a gente gostava e admirava.

E as nossas Catequistas, que aos domingos nos ensinavam o catolicismo e tinham a paciência de aturar as nossas traquinices. De entre outras, destacamos:  Maria Cândida; Emília Lopes; Ermezinda Teixeira; Raquel Barros Alves; Conceição Barros Alves; Aida Pereira da Mata; Clotilde Ribeiro; Olga Margarida Lopes; Fátima Mosca Pires e Fernanda Fontoura Alves .  Dada a quantidade de alunos dessa época, a catequese era ensinada na igreja matriz e na casa paroquial. Algumas destas nossas amigas, mensageiras do evangelho de Jesus Cristo,  já exerciam esse Ensino Cristão, no tempo do Sr. Padre João e outras, já mais tarde, no tempo dos Srs. Padres: Azevedo, Ribeirinha, Branco e,   ainda,  Alberto da Eira, este último, pároco da nossa freguesia , desde 1977, de que muito  nos honramos e orgulhamos.

Vamos referir uma peripécia que nos contaram, que  aconteceu no período escolar de (+-) 1963 ou 1964: A igreja e o ensino escolar primário, andavam, nessa época, de mãos dadas;” Não sabemos se por influência do Senhor pároco de então, padre Azevedo”, na sua curta passagem por esta paróquia, ou outra qualquer; Os alunos eram obrigados aos domingos, a assistirem à missa e, após a missa, à saída,  recebiam um santinho em cartolina que teriam de entregar na escola. No dia seguinte, “segunda-feira”, à entrada, a professora, chamava um a um , para estes lhe devolverem esse Santinho, como prova da presença na missa. Claro, havia sempre alguns que se” baldavam”, mas estes, já sabiam previamente, de que isso lhes traria um bom par de palmadas (reguadas). Enfim, a estupidez não pagava impostos. !.

 Áh..., esquecemo-nos de dizer, que nessa fase,  houve um período (muito curto), que após a missa, na sacristia,  as crianças da escola, recebiam gratuitamente uma sanduíche de queijo, oferecida pela Cáritas Diocesana. Enfim, temos muito difíceis e de miséria,  onde a maioria, andava quase todo o dia, só com uma tigela de sopa no estômago, ou com uma côdea de pão, assim como descalços, ou com os pés metidos dentro de uns tamancos (socos) cheios de buracos, a verem-se os dedos dos pés. Havia, contudo,  uns poucos privilegiados, que na semana que antecedia a nossa festa de Agosto, os pais iam à feira  a Vilarandelo e compravam-lhe uns sapatos de pano, que teriam de estimar, até ao próximo ano, independentemente de andarem descalços, ou não

 

*Jogos tradicionais que se jogavam no receio da escola:

Rapazes: Malha; Cabra-Cega; Peão; Bilharda ou Ferrolho; Botão; Trinca-cevada; Rou-rou (Escondidas ou Escondidinhas; Férrinho ou Espeto ; Pincha-Carneira; Eixo; Buraquinha ;Mata; Rodinha; Bola ( que normalmente era trapos , mas  escassamente lá ia aparecendo uma ou outra de plástico ou borracha).Etc. Etc.

Raparigas: Cordas; Macaca; Pedrinhas ou Boldegros; Jogo do Lencinho;  Cama do Gato ;Eixo; Pincha-carneira ou Trinca-cevada ; Jogo do Galo; O Mata; Os Milhinhos; Cabra-cega; Rou-rou ( Escondidas ou Escondidinhas), “mais tarde os Elásticos”, Etc. Etc.

 

http://tbn0.google.com/images?q=tbn:bBe0HbPkr03FoM:http://bp1.blogger.com/_pbV9IgmtwvU/R_zU3l7p6-I/AAAAAAAAAl4/n1F_ftyqiOw/s320/palmatoria.jpg                              http://tbn0.google.com/images?q=tbn:kWMsm5AuTQJh1M:http://www.nobrinde.com/fotos/produtos/am93524.jpg              http://tbn0.google.com/images?q=tbn:9WzWv5Sgb3jZCM:http://armazempaulista.com/images/produtos/cabo_madeira_enxada.jpg 

(Palmatória)                                 (Régua)                      (Cana)

 

*(Palmatória ou Régua, que na época servia para castigar os faltosos ou mal-educados , mas que, mais tarde, e já numa fase adulta e responsável , a maioria,  veio a reconhecer o seu valor) .

 

*** Antigamente os alunos não eram obrigados por lei a estudar, e a maior parte deles, não gostavam da escola, mas hoje..…., todos reconhecem terem gostado muito de ir à escola  e terem partilhado de um principio de amizade comum.

 

 

Santa Valha, Dezembro de 2008

 

 

A NOSSA BEM-AMADA PROFESSORA,

                Recordando o que ouvi falar aos nossos mais idosos e outros que infelizmente já nos deixaram, a instrução escolar em Santa Valha teria começado por volta de1900, com o Professor Moutinho, na  casa  de residência deste, situada no largo de cima do bairro do Pontão, agora pertencente ao Sr. António Garcia da Mata. Esse ensino era particular e só poucos o aprendiam. Contudo, ainda tive o prazer de conhecer alguns alunos/as que por lá passaram, e que me contaram,  como se ensinava e aprendia nesse tempo e as dificuldades da época…. ( para aprender o  “ a-e-i-o-u” ).

                O Ensino Oficial Público, escolas, dos rapazes e raparigas, situadas no bairro dos Ciprestes e largo das Adufas , respectivamente, começou  por volta de 1917, conforme constava  nos livros de registos do arquivo da nossa escola primária, (que já também fechou definitivamente no ano lectivo de 2005/6, por falta de alunos). Por lá passaram vários mestres de ensinar, tais como: Maria Palmira, Carolino, Nelson, Maria Clotilde,  Eufrasina, Berta, Estrelita, Miquelina, Elisa, Nini, Mimi, etc.etc., primando sempre pela qualidade de ensino. Outras se seguiram, dando cada um/a o melhor que podia e sabia, mas apenas permaneciam 1 ou 2 anos, com excepção dos Profs. Carolino e Nelson, que leccionaram vários anos.

                Em 1950 é a vez de uma ilustre filha da terra se formar em Bragança, a Dª. Margarida Lurdes Silva - A Menina Guidinha -  era assim como era tratada. Começou a leccionar apenas com 18 anos. Era tão Jovem!. Veio para a sua terra como professora em 1956 e aqui permaneceu até à aposentação em 1988.

                A Dª. Margarida trabalhou na Escola das Adufas durante 5 anos e fez em 1962,  a transição para a Escola “Nova” do Br/rua. do Pontão, juntamente com o professor Nelson. Tinha quase sempre a 4ª. classe e turmas numerosas.

                Quem ler estas linhas faça um pouquinho de reflexão sobre uma vida de 38 anos de trabalho, além de esposa e mãe de 6 filhos.

                Sempre a conhecemos com aquela boa disposição e graça,  tal que, quem estivesse junto dela não teria razão para permanecer triste, pois a Dª. Margarida tinha a qualidade nata de  fazer rir as pedras.

                Esta aldeia muito lhe deve e orgulha-se da sua Bem-Amada professora.

 

Santa Valha, Maio de 2009

Maria Raquel Barros Alves (Professora Aposentada)