MEMÓRIAS E DATAS QUE MARCARAM VÁRIOS ACONTECIMENTOS NA NOSSA TERRA

 

Coisas e Gentes da Nossa Terra

 

INFORMAÇÃO DIVERSA:

 

Casa da Coutada:

Esta casa ou casarão, como lhe queiram chamar, com a matriz predial urbana 164 da freguesia de Santa Valha, em ruína progressiva desde finais da década de 50, conhecida por todos por “Casa da Coutada”, situada a meio caminho ente Santa Valha e Gorgoço, pertenceu outrora, (por compra a um proprietário do concelho de Mirandela)  ao “Cego da Coitada” como era vulgarmente conhecido na freguesia por ter deficiência numa das vistas. O seu de nome verdadeiro era João Evangelista Fernandes (falecido em 1918) e o da esposa era Carlota do Nascimento Ferreira, avô paterno de Ana, Manuel, Joaquim e Alexandrina Leite Contins, entre outros, e ainda, vise-avô materno de Amândio Guedes (Mandito) e trisavó materno de Maria Augusta Cagigal Neves (Marieta) e Amílcar da Cunha Cagigal Rôlo (Lilo), entre outros. Esta enorme habitação encontra-se desabitada desde (+-) 1925.

Os últimos moradores foram dois netos desse casal: Mário Moura e João Agostinho da Cunha. Após o falecimento do “Cego da Coutada” e da esposa, os seis filhos do casal, quatro do casamento com a esposa Carlota: Ana Teresa Ferreira (Aninhas), Maria Ferreira, Rosa Ferreira, José Ferreira (professor), e os restantes dois perfilhados pós sua morte: João Evangelista Contins Fernandes, e outro que só conhecido por apelido “Barreira?”, mas que me disseram ser de Tinhela; vieram todos eles a herdar, não só esta enorme habitação, como as inúmeras propriedades contíguas e outras, tendo em conta que, para além desses bens, tinham mais três grandes casais: dois em Santa Valha e um outro em Tinhela. Ouvi dizer também, que se constou após a morte, ter deixado ainda outro casal agrícola em Vila Frade, do concelho de Chaves, e que os herdeiros nunca chegaram a saber dessa existência, ficando este património para o seu caseiro de então.

Para além dos seis filhos atrás referidos, consta ainda ter havido mais dois fora do casamento: Mário Machado, que residiu na aldeia de Agordela e casado em Ervões, e José Luciano, que residiu em Tronco do concelho de Chaves. Estes dois, depois da morte do pai, não quiseram, por sua livre vontade, vir a ser perfilhados e receberem a herança a que tinham direito da parte do património do pai biológico.

Todos os filhos legítimos do casal usaram só o apelido de mãe “Ferreira”, que já vinha da mãe de Carlota, chamada Luiza Ferreira, facto estranho, que nem os descendentes e os parentes souberam e sabem responder. Coisas caricatas do Registo Civil de então. Só um, fora do casamento: João Evangelista Fernandes, também conhecido por “João Contins”, veio a ser registado com o apelido do pai “ Fernandes”.

O filho José Ferreira, o mais culto de todos, por ter estudado em Bragança e exercido a profissão de professor, veio a falecer ainda bastante novo por ter contraído uma pneumonia. O pai, traumatizado com a morte do filho, mandou cortar um velho castanheiro e com o tronco mandou serrar cinco tábuas bastante grossas para forrar o caixão que nessa época eram todos feitos à mão nas localidades. Com essa atitude, seria, com certeza, muito provavelmente, para conservar mais tempo o corpo por debaixo da terra.

Era, de todos os irmãos, o único que sabia ler e escrever, apesar dos pais o saberem fazer, nomeadamente a mulher Carlota Ferreira, pessoa de posses e bastante culta. Mesmo com a influência e insistência junto do pai por parte do tio (paterno) padre, este, não os deixou estudar, argumentando que só iria servir para escreverem cartas aos namorados e andarem com a cabeça no ar.

Era individualmente a pessoa com mais posses na nossa freguesia no início do século XX. João Evangelista Fernandes, “Cego da Coutada,” era oriundo de Carção do concelho de Vimioso, Bragança. Veio ainda de muito jovem para Tinhela pelas mãos de um tio que era padre. Sua esposa, Carlota Ferreira, que já contava a bonita soma de 97 anos quando faleceu, era natural de Tinhela, do nosso concelho; quando se casou, era já pessoa com algumas posses, oriundas de seu pai, que também exerceu a actividade política em Lisboa.

Após o casamento, para além do casal que já possuíam em Tinhela, compraram em Santa Valha todos esses bens, incluindo residências: uma, situada no bairro da Igreja, agora parte já em ruínas dos herdeiros de Aglai Moura, mais conhecida por “Glaizinha Moura”, e outra,  contígua, no local da agora casa de Fernando Alves, e mais outra habitação e quinta, no cimo do bairro do Sobreiró, dos herdeiros de Laudemira da Conceição Ferreira da Cunha (Cagigal ), neta do “Cego”, agora dividida e de dois netos:  Aglai Cagigal Neves (esposa do professor José Carlos) e de seu irmão José Maria Cagigal das Neves.

Para além de duas juntas de bois e outros animais de trabalho permanentes nas terras da Coutada, trabalhavam para essa casa, vários criados e outras inúmeras pessoas de Santa Valha e Gorgoço. Disseram-me que no Gorgoço só houve, nessa época, duas famílias que nunca chegaram a trabalhar para esse casal e que para chamar os vários criados para comer, era através de toque com um corno de boi, tipo buzina. Caso um ou outro se demorasse por algum motivo podia já não o conseguir fazer, tendo em conta que nessa época comiam todos da mesma(s) travessa(s).

Para dar de comer a tanta gente, matavam nessa casa doze ou treze porcos (cebas). Os porcos andavam quase todo o ano a pastar no enorme lameiro que ainda existe em frente à habitação. Tinha também rebanhos de gado ovino e um criado rapaz só para apanhar a água da fonte que ficava do lado de lá do ribeiro. Existia também no local e para consumo próprio, forno de cozer a lenha, forja para reparar as ferramentas, forno de fabricar telha e duas eiras para malhar o cereal. Chegou até a construir junto ao açude que leva a água ao lameiro grande e  perto da pequena fonte-de-mergulho um pequeno aposento/divisão em pedra para criar perdizes. Dizem familiares que foi também nesse local que existiu a tal forja para reparar as ferramentas de trabalho.

Os peixes das duas ribeiras circundantes podiam-se tirar aos baldes e até as enguias que subiam do rabaçal abundavam, fazendo também parte do petisco à mesa. Sinónimo de abundância que a natureza se encarregava de oferecer nesse tempo.

Ouvi ainda o seguinte: quando um pobre ia pedir trabalho ao “ Cego da Coutada”, primeiro mandava-lhe dar de comer; se comia bem! ficava a trabalhar, se não!, como não servia para comer, muito menos iria servir para trabalhar.

Acrescentaram ainda algumas pessoas, que também ouviram falar, ter sido o “Cego” uma pessoa respeitável, influente e muito rica, chegando a ser a sétima com mais posses da nossa Comarca, e que se constava, ter já nessa época, para além de muito dinheiro, também uma rasa cheia de libras de ouro, parte delas, deixadas por um seu irmão, que diziam, ter residido algum tempo na Inglaterra e que chegou a participar na primeira guerra mundial. De um modo geral e dessas várias virtudes anteriormente referidas, era ainda portadora de uma enorme bondade humana. Contudo, já com a idade um pouco avançada, passou a ser uma pessoa muito mulherenga, e por esse motivo, acabou por dar cabo na sua fase final, de parte da fortuna que possuía em dinheiro e até outros bens móveis.

Quando faleceu por volta de 1918 com oitenta e tal anos, deixou no testamento o seguinte: quem transportasse o seu caixão à mão até Tinhela, local  onde foi sepultado, tinha direito a quatro alqueires de centeio (pão) e que, perante esse facto já previamente conhecido, apareceram de imediato uma enorme quantidade de pessoas a pretender prestar esse serviço.

Mais tarde, por volta da década de 30, a “Casa da Coutada” e respectivas dependências veio a ser dividida em duas partes e herdadas pelas netas de duas filhas, da seguinte forma: a parte nascente (2/3) ficou na posse de Aglai Moura (Glaizinha), vindo na década de 1990 a ser vendida pelos herdeiros a Joaquim dos Santos, mais conhecido por “Quim Lucas”; a parte poente (1/3) ficou na posse de Laudemira da Cunha (Cagigal) (avó materna do Lilo, entre outros), agora pertencente à neta desta, Aglai de Jesus Cagigal das Neves (trineta do “Cego”), já atrás referida.

Já quanto às inúmeras propriedades agrícolas que o “Cego da Coitada” e esposa possuíam por toda a freguesia de Tinhela e Santa Valha, e que o povo chegava a dizer: serem tantas, que o “Cego”  não necessitava de colocar os pés fora das suas terras, para se deslocar de St. Valha a Tinhela, frase que algumas pessoas mais idosas ainda se recordam bem de ouvir. A maior parte delas foram há muitas décadas atrás vendidas por herdeiros, existindo ainda muitas na posse de descendentes. Chegou ainda a ser proprietário na aldeia de Agordela de vários moinhos,  e um deles, era o conhecido “Moinho da Ana”, não muito longe das casas do Calvo.

O último caseiro que trabalhou durante muitos anos o casal de Aglai Moura (Glaizinha), foi o lavrador António Modesto e seu filho Zé, mais conhecidos na aldeia pela alcunha “Tenentes”. Disseram-me que o fizeram até finais da década de 80. Relativamente à parte da senhora Laudemira, foi o seu filho Amílcar Cagigal,  mais conhecido por “Milo”, que o fez, desde meados da década de 70, até ao início de 2000, data do seu falecimento.

E é isto um pouco da história interessante deste imóvel, agora amontoado de paredes em ruínas, e dos seus antigos proprietários, contada por alguns familiares e outras pessoas que nos disseram terem ouvido também contar há muitas décadas atrás. Mas acima de tudo, foi aqui neste espaço, que teve origem uma geração, que veio a multiplicar-se por muitas outras ao longo do século passado, e que irá, certamente, dar continuidade no presente e no futuro.

Ao longo das várias conversas que tive para esta memória, foram-me também descritas outras histórias e peripécias sobre esse homem e a sua casa da Coutada - Coitada, como dizem incorrectamente ainda algumas pessoas -, porém achei por conveniente não as contar aqui, com sentido único de não tornar mais extenso este texto memorial.

 

Casas do Calvo: O último residente nesse povoado foi Mário António (Teixeira), conhecido entre nós por “Mário Cego”. Nasceu nesse local em 1904 e faleceu em 1984. Residiu lá sozinho até 1982. Chegaram a morar no Calvo perto de dez famílias. Nesse pequeno povoado chegou a haver noutros tempos: Capela, com o Stº. António como Padroeiro e cemitério no adro desta, forno comunitário e fonte de mergulho de água potável. Ainda, bem perto do povoado, uma exploração de volfrâmio e vários moinhos junto ao ribeiro. (Ver Link - Anexas)

Quinta da Teixogueira:

A última família a habitar nesse local (quinta de cima) foi a do falecido António Augusto Sarmento Afonso, conhecido entre nós por “Toninho da Quinta” que faleceu na década de 1990. Posteriormente, inícios da década de 2000, os filhos deixaram de lá habitar. (Ver Link – Anexas: Teixogueira).

Morgadios de Santa Valha:

Na nossa freguesia, chegou, noutros tempos, a haver dois morgadios, assim identificados nos livros (Tomo I e Tomo II) - Família Transmontanas – Descendência Francisco de Morais, Palmeirim =  Ligações Familiares e Outras Famílias de Trás-os-Montes, datado de 2001 – Autor: Francisco Xavier de Morais Sarmento, que abaixo referimos:

Morgadio de Santo António dos Aciprestes, “e Descendência”

e

Morgadio da Quinta da Teixogueira, que se chamou inicialmente: “ Costa Homem – Morgadios de Valpaços, da Quinta da Teixogueira e do Nosso Senhor Jesus Cristo Ecce Homo ”,  sendo estes em Santa Valha descendência de  D. Jerónimo de Morais Castro e de D. Maria Antónia de Morais Castro. Ouvi dizer aos mais idosos, que o última pessoa com o título nobre de Morgado a residir na Quinta da Teixogueira, anexa a Santa Valha, foi um senhor chamado Augusto “da Teixogueira” … (?), mas como também era costume o povo humilde de então chamar  “de Morgado” a uma ou outra pessoa  mais ilustre dessas famílias, fico com dúvida.

O título de morgado(s), gente nobre e fidalga, existiu até 05 Outubro 1910, data do derrube do regime monárquico e entrada do regime republicano.

O “velho solar” dos Aciprestes, que remonta a 1653 de acordo com a inscrição esculpida na padieira da porta carral da entrada principal que sustenta o brasão de família de nobreza, é obra renascentista e continua a ser conhecido por estes sítios, pela Casa dos Carmos ou Sarmentos de Santa Valha. Ouvi dizer a algumas pessoas mais idosas que antigamente também lhes costumavam chamar “Casa dos Morgados ou dos Sarmentos”.

A construção da Casa dos Ciprestes remonta a 1594, conforme se encontra gravado na padieira do portão, encimado pelas armas do fundador Gonçalo de Morais.

O chapéu eclesiástico que encima o escudo, significa que Gonçalo de Morais foi abade de Santa Valha, tendo recebido o sacramento da ordem depois de enviuvar.

Era filho de Francisco de Morais “O Palmeirim”, autor do conhecido romance de cavalaria do séc. XVI “O Palmeirim de Inglaterra”, e neto de Sebastião de Morais Valcacer que foi Tesoureiro da Casa Real e mais tarde Tesoureiro-Mor do Reino no tempo de D. João III.

No seu tempo, foi instituído o vínculo do morgadio para a transmissão da posse da propriedade, que passou a ser designada por Stº. António dos Aciprestes. O seu filho, Jerónimo de Morais foi o primeiro morgado, mantendo-se sempre a transmissão por vínculo até à extinção dos morgadios na segunda metade do Século XIX.

O último morgado foi o general de brigada António de Morais Sarmento, Comandante e Governador da Guarda Municipal, na Cidade do Porto, onde faleceu cerca de 1930.

Com mais de quatro séculos de existência, a Casa dos Ciprestes mantém-se na mesma família, continuando a pertencer aos descendentes do fundador Gonçalo de Morais.

A Capela, fundada em 1617, está colocada num plano paralelo avançado em relação à casa. Exteriormente, apresenta um aspecto sóbrio mas o altar-mor encontra-se adornado com bela talha dourada. Nela estão sepultados o fundador, Jerónimo de Morais, e vários dos seus descendentes.

Autor deste artigo: Quinta dos Ciprestes: http://www.quintadosciprestes.com/about.php ”.

O brasão de família do “ Morgadio da Teixogueira”, que até por volta de finais dos anos 80 ou início de 90 fazia parte da fachada principal de uma pequena residência de férias do último Morgado da Teixogueira, situada em Valpaços, na rua Dr. Castro Lopo, nessa data demolida pela pessoa que a adquiriu o imóvel e que permaneceu até Abril de 2013 num jardim de uma habitação de uma pessoa dessa família, foi agora (indevidamente) colocado no jardim de velho palacete situado também em Valpaços na rua Heróis do Ultramar, que se encontrava em ruínas totais e que foi agora mesmo (Junho de 2013) acabado de restaurar e ampliar, imóvel este, que foi outrora propriedade da família dos “ Melos” (Conservador do Registo de Valpaços, Dr. Melo e oriundo de Fiães), depois da família dos “Castro Martins” por compra, e agora e por último do Sr. Engº. Eloi Ribeiro.

De todas estas famílias proprietárias ao longo do tempo, que se saiba, nunca nenhuma delas chegou a ter laços familiares com os morgados deste brasão, nem nunca este palacete chegou a pertencer a essa família de gente nobre e fidalga. É caso para se dizer: que história tem ou teve esta casa ou pessoa(s) associada a este brasão? Ouvimos dizer, que tudo leva a  querer, ser só por vaidade, nada mais.

Na igreja matriz de Santa Valha, mais propriamente no alçado esquerdo da capela do Santo Cristo, existe um brasão de família desse prestigiado Morgadio da Teixogueira, por ter sido  Jerónimo Morais de Castro, morgado de então da Teixogueira o benemérito dessa construção religiosa datada de 1722.

 

Marco Geodésico (Castelo):

Estes marcos/vértices, popularmente conhecidos em Portugal por “Talefes ou Pinocos” mas mais conhecidos nas aldeias do nosso concelho por “Castelos” foram construídos no século XVIII, no reinado de Dª. Maria I, nos pontos mais elevados das (sedes) freguesias - no nosso caso de Santa Valha, no lugar de Monte Cerdeira ou Vale das Lousas -, para determinar levantamentos topográficos e coordenadas e posições cartográficas exactas da zona e região. Para tal, foram escolhidos sítios altos e isolados com linha de visão para outros marcos ou vértices etc., como lhe queiram chamar. São cerca de 8 mil que formam a rede geodésica portuguesa, divididos em três ordens de (construção) importância, conforme as distâncias que estão entre si.

Ouvi dizer às pessoas mais idosas, que sempre se recordam de ele lá estar e que só foi pintado (caiado) há poucos anos pelo presidente da Junta Jorge Castro. Para além de um local bem localizado para umas boas merendas ou magustos, é ideal para tirar umas fotos panorâmicas na nossa freguesia, para mais tarde recordar.

 

Relógios de Sol:

O “Relógio de Sol” foi um relógio de outros tempos muito importante para mostrar e informar as horas solares durante um certo período do dia compreendido entre o nascimento e o pôr-do-sol, a maior parte deles entre as 6 da manhã e as 6 da tarde. Normalmente são todos construídos numa pedra e sempre com a face do mostrador virada para sul, conhecido também pelo relógio dos pobres. Não se sabe ao certo, mas segundo alguns investigadores, os antepassados dos Relógios de Sol terão aparecido na Mesopotâmia, agora Iraque, por volta de 2400 a.C.

Em Santa Valha, chegou a existir um relógio de sol particular até ao início dos anos 60 (1961/1962?). Estava situado no bairro do Pontão, mais propriamente na parede da antiga casa dos “Moreiras”, contígua às casas da senhora professora Raquel Alves  e dos herdeiros de Palmira Costa “Moleira”, habitação essa, que uma década e tal depois, Luís António Atanázio adquiriu, demolindo-a e construindo-a de novo. Ainda há pessoas que se recordam bem de ver lá muita gente ir ver as horas para as orientar no horário do dia, particularmente as mulheres quando tinham que levar a  comida aos familiares (jeireiros) que trabalhavam no campo e que esse relógio estaria mesmo junto à parede da casa da falecida senhora Palmira Costa.

Ouvi também dizer que esse relógio “Vertical Meridional”, esculpido pelo pai desse senhor Moreiras, estava construído/esculpido numa pedra (bloco) com cerca de 60 cm de altura e de 40 cm de largura, tinha os riscos de marcar a numeração das horas esculpidos na pedra e pintados a cor preta e com um pequeno ferro (gnómon) que servia de ponteiro onde o sol batia e projectava/reflectia a sombra ao mostrador das horas. Ninguém sabe explicar nem mesmo os familiares ou parentes do paradeiro desse tal relógio, mas que se veio a constar mais tarde, que alguém o roubou e o vendeu antes da aquisição da casa por parte de Luís Atanázio.

Ouvi ainda dizer a algumas pessoas mais idosas, que se constou, que no cimo do bairro dos Ciprestes, mais concretamente na antiga casa de habitação do falecido senhor António Carlos Ribeiro, chegou a existir noutros tempos um relógio de sol de arquitectura modesta, construído numa pedra de dimensões inferiores ao do Br. do Pontão por volta do início da década de 50 por um pedreiro que chegou a residir na aldeia chamado de Franquelim e com a alcunha de “Lúria”. Certo é, que os filhos mais novos do senhor António Ribeiro, todos eles hoje de meia-idade ou até mais, não se recordam de o ver por lá ou de saberem algo da existência desse relógio e, dos vizinhos próximos, só Cândida Pereira se recorda dele e desta vaga informação.

Acrescentaram ainda, que esse tal pedreiro Franquelim tinha certo jeito para a arte de trabalhar a pedra e que até chegou a fazer mais um ou outro objecto/escultura em pedra que ofereceu a amigos.

 

Feira de Santa Valha

As pessoas mais idosas da nossa terra dizem, que ouviram dizer aos antigos, que a feira de Santa Valha se realizou até ao início de 1900, num espaço do recente bairro da Maçaira ou Maceira, situado junto ao actual Cemitério Público edificado em 1903, quiçá também em parcela de terreno deste, e que a pequena feira de compra e venda de animais, essencialmente de porcos (“recos” como antigamente a maioria lhe chamava e ainda hoje em dia alguns ainda lhe chamam) que a completava, era feita num sítio não muito distante que ficava mais abaixo no bairro de Santa Maria Madalena, num pequeno largo que existiu nessa época, agora ocupado pelas casas de Arménio Rua, de Manuel Vilardouro Barreira e porventura mais outra contígua.

Até ao final da década de 1980, o principal mercado para adquirir ou vender, e até trocar produtos agrícolas, era a feira quinzenal de Vilarandelo, a 9 e 23 de cada mês. Era aí que as pessoas encontravam quase tudo para as suas necessidades domésticas, agrícolas, ou outras, e ainda o local único para estar devidamente actualizado quanto aos preços, nomeadamente da lavoura e dos animais. Também a de Lebução a 3 e 16 de cada mês (hoje último domingo do mês); não sendo tão importante para Santa Valha como a de Vilarandelo, era no negócio de gado o seu maior valor comercial.

A grande maioria deslocava-se a pé ou acavalo. Por cima da albarda do animal era colocado a melhor manta ou cobertor,  guardados para esse efeito ou para as saídas a localidades vizinhas, tudo apertado com a “cilha”. Para transportar parte da mercadoria, as pessoas com mais posses, colocavam por cima da albarda uns utensílios chamados “alforges”.

O dia de feira era um dia de festa, principalmente para as crianças, quando os pais os levavam consigo. Um canto de trigo, ou um pífaro de barro, ou mais tarde uma corneta de plástico, já os fazia felizes e sorrir de orelha a orelha. Alpergatas, sapatos (de pano), ou socos, eram normalmente comprados lá, e teriam que durar para o ano todo, ou até mais, nomeadamente os socos.

Era também aí o principal local de negócio de animais de trabalho, rebanhos de gado, e outros, como os de capoeira, etc.. Havia mais duas feiras importantes de negócio de gado, Lebução, e Torre de Dona Chama, mas tudo veio a acabar, por volta de meados da década de 1980, devido à entrada em vigor de uma Lei criada para regulamentar a venda de animais em feiras, sobretudo no tocante à sanidade, transporte e local.

 

Registo Civil Público de Santa Valha:

O Registo Civil de Stª. Valha teve lugar numa pequena dependência da casa dos herdeiros de Arnaldo Domingues (Augusto Simão) junto ao largo do Br. dos Ciprestes, mais propriamente no início da rua da Tramagal, mesmo em frente à porta principal do antigo lagar de azeite, divisão ainda hoje conhecida por algumas pessoas mais idosas por “escritório”. Lá funcionou até ao início do século XX (1920 ?), um “Posto” Público da Conservatória do Registo Civil de Valpaços, destinado ao registo dos nascimentos, óbitos e casamentos, das pessoas da nossa freguesia e de outras da redondeza.

O imóvel foi anteriormente propriedade da família dos Videiras e as últimas pessoas a exercer esse cargo público, conhecidas por “Ajudantes”, penso  ter sido com alguma remuneração do Estado, foram os próprios antigos proprietários: João António Videira e filho Luíz António Videira, visa-avô e avô paternos de Julieta Videira. Informou-me a Dª. Julieta, filha da falecida Dª. Hermínia Pereira, que o nascimento da sua mãe à data de 16/06/1911, foi registado nesse Posto  (Repartição) e que o livro ou livros desses registos porventura se encontrariam na Conservatória do Registo Civil de Valpaços.

Fui pessoalmente confirmar o facto junto da Conservatória do Registo Civil da nossa Comarca, bem assim como conhecer o livro desses Registos de Assentamento de então, e o acto narrado pela Dª. Julieta está certíssimo. Digo-vos, que não foi fácil encontrar nos arquivos esse “dito-cujo “pela amável e simpática funcionária que me atendeu e que se prontificou a fazê-lo na sua merecida hora de almoço. Conformei no próprio livro que o Assento de Registo da Dª. Hermínia tem o Nr.669 de 18/07/1911, tendo pago Emolumentos do Acto (imposto do selo), no valor de 400 Reis.

Verifiquei também, que o nome da pessoa que escriturou esse registo de nascimento, para além de muitos outros, foi o Sr. Luí(z) António Videira, tendo assinado  conjuntamente com o pai da criança,  Manuel Pereira, e duas testemunhas: Manuel Luí(z) e Manuel Mata. O falecimento da Dª. Hermínia, ocorrido em 11/11/2003, também se encontra registado nesse mesmo livro.

Não obstante o Posto do Registo Civil da nossa aldeia ter sido extinto, ao que tudo indica entre 1915 e 1920, certamente por motivo de falecimento do último Adjunto Luiz Videira, alguns postos de atendimento de registo idênticos, ainda se conservaram abertos em algumas freguesias do país até à publicação do DL. nº.519-F2/79 (DR.1ª. Série nr. 299 - 9º.Suplemento),de 29-12-1979 e DL. 131/95, de 06/06/1995 com entrada em vigor a 15/09/1995.

Na fachada principal dessa casa, perto desse antigo escritório, encontra-se esculpida na pedra da padieira de uma porta, que me disseram ter sido inicialmente uma janela, uma inscrição com os seguintes dizeres: “Ano de 1778”; tudo leva a querer ser a data da construção da casa, não mais do que isso.

 

Guerras: Mundial e Ex-Colónias:

Santa Valha teve alguns filhos soldados que participaram na guerra colonial do Ultramar (ex-colónias africanas), de 1961 a 1975. Mas teve também vários outros filhos “soldados” que militaram na primeira Guerra Mundial, também conhecida por “Grande Guerra”; conflito mundial ocorrido entre 1914 e 1918. Lutaram com armas nas trincheiras de França e foram eles: Antero Augusto Cagigal, Francisco Luís Alberto, também conhecido por Francisco Ferruge(m), Alberto Morais de Castro, Mariano da mata, Manuel Batista “Regalório”, Manuel “Raposo” e “Capitão” Baltazar Castro.

Na “guerra mundial “ felizmente nenhum destes nossos heróis chegou a morrer em combate. Na guerra das ex-colónias, já não podemos dizer o mesmo. Foi em 30-06-1972, o conterrâneo combatente 1º. Sargento chamado António Alberto Teixeira, nascido no povoado do Calvo em 15-10-1928. Encontra-se sepultado em Angola, mais concretamente em Luanda, no cemitério de Santana (Catete), talhão militar campa nr.5. (Posto 1º.SAR, Ramo EXE, Unidade de Origem CDMM, Unidade Operacional ASMA).

Era filho dos falecidos (do Calvo) Marcelo da Assunção Alberto e de  Emília Joaquina Teixeira, e irmão da falecida Constança Alberto, “Constância” como a maioria a chamava, do Br. dos Ciprestes (mãe do Luís, Zé e António Castro, entre outros).

O falecido combatente deixou os seguintes descendentes: José Manuel da Fonseca Alberto; Victor Manuel da Fonseca Fidalgo; António Jorge da Fonseca Alberto Teixeira e João Paulo da Silva Teixeira.

*Esta informação foi-me prestada (via e-mail) pela Liga dos Combatentes/Lisboa. Todavia desconheço a causa da morte deste conterrâneo que na altura tinha 44 anos de idade.

**Nome dos 47 Combatentes Valpacenses mortos na Guerra Colonial: http://clubehistoriaesvalp.blogspot.com/2010/04/combatentes-valpacenses-mortos-na.html - Nota: Na lista do “Site da Liga dos Combatentes da Guerra do Ultramar”, refere o nome de 48 soldados mortos (tombaram) em combate e não 47 como está referido no Blogue. Falta, portanto, o nome de Jacinto Vassal Morais, natural de Argeriz.

Bem perto das casas do Calvo, existe uma mina, que em outros tempos foi  local de extracção de volfrâmio, utilizado no fabrico de material de guerra para (a primeira?) e segunda guerras mundiais: (1914 a 1918 / 1939 a 1945). Existem ainda na aldeia outros locais com alguns vestígios de exploração deste metal/minério, nos seguintes locais: Lugar da Cruz, a aproximadamente 150 metros da estrada e muito perto do estradão para Monte Cerdeira/Castelo; Outeiro do Abade, a cerca de duzentos metros da Capelinha ou Cruzeiro do Senhor da Boa Morte; Semuro: junto e a poente dos lameiros dos Rolos; Canamão: a cerca de duzentos e tal  metros do lado de lá do ribeiro, logo a seguir às terras de cultivo e antes da fraga redonda (fragão) que existe no fundo da Cabeça Gorda.

Houve ainda dois soldados, filhos da nossa aldeia, que fizeram parte do serviço militar (tropa) na nossa ex-Colónia de Macau. Foram eles: Amílcar Cagigal, mais conhecido por todos por “Milo” e António Modesto, também por “António Tenente”. Partiram os dois do quartel de Bragança onde pertenceram à mesma companhia por volta de 1945 ou 1946 ainda em cima ou a quente da segunda guerra mundial. Ouvi dizer à família que o barco que os transportou juntamente com outros soldados se incendiou em alto mar e que foram salvos por um barco inglês que passava por perto. Um milagre na altura, dado não existir nessa época comunicações entre embarcações, ou outras formas. Também me contou essa pessoa que poderá ter seguindo na mesma data um soldado da nossa anexa do Gorgoço, mas não tem certeza do facto.

 

Pedregal ou Pedreguçal do Canamão:

No termo do Canamão ou Cabeça Gorda, perto da divisória territorial das freguesias de Santa Valha com Sonim, local mais conhecido por “Morro da Cabeça Gorda”, antiga propriedade de monte da esposa do falecido Dr. Olímpio Seca, agora de “(Manuel?)Lopes” de Pardelinha, vulgarmente conhecido nessa nesta aldeia por “24”, existe a meia-encosta a poente, contíguo ao “Cabeço do Porco”, um local conhecido por “pedregal ou pedreguçal.” Trata-se de uma grande mancha de aproximadamente 2500 m2, constituída por inúmeras pedras lascadas de granito de cor cinzento-escuro, que tudo leva a querer, serem de origem vulcânica, não só pela cor que apresentam, como também pela forma como estão amontoadas umas em cima das outras, jamais visto na nossa freguesia e vizinhas, situadas juntas de enormes pedras fragosas, de características totalmente diferentes.

No mesmo monte, na encosta a norte, a cerca de 200 metros deste local, mas já dentro do termo de Sonim, existem outro amontoado de pedras com a mesma dimensão e características.

O melhor trajecto para esses locais é pelo caminho agrícola e vicinal que liga Pardelinha (capela) a Sonim, mais conhecido pelo caminho (das minas) de Vale de Carvalho. Do caminho a esses dois lugares são cerca de 250 metros.

Ninguém, até à presente data, nos conseguiu explicar este fenómeno da natureza.

Aconselho visitarem este local e até mesmo se possível estudá-lo.

 

Árvores de Grande Porte e outras também com algumas memórias que perduram no tempo:

Para além do célebre “pinheiro-manso” ou “pinheiro-grande” como todos antigamente lhe chamavam que existiu até 15 de Fevereiro de 1941, derrubado nessa data pelo grande ciclone (historia já contada no “link: Indústrias – espaço: serradores e madeireiros) e ainda um  dos dois ou três seculares e enormes ciprestes que ainda existe junto à porta de entrada das traseiras da casa ou solar dos (A)Ciprestes, no bairro que lhe dá o mesmo nome, existiu,  também outrora, até por volta de finais da década de 50 ou início de 60, um enorme e frondoso castanheiro, situado perto do início do caminho vicinal que liga o cruzamento do Cruzeiro ao bairro dos Ciprestes, a pouco mais de 60 metros do lado direito da   antiga propriedade de souto de castanheiros, hoje vinha pertencente  ao Dr. Manuel da Silva Barreira.

Contaram-me algumas pessoas do bairro dos Ciprestes, que a copa desse tal castanheiro, era de tal forma grande, que dava para abrigar dois ou três rebanhos de gado e que chegava a dar nesse tempo, vários vindimos ou barreleiros de castanhas. Outros havia antigamente no Monte João Luís, Monte Cerdeira e Sandim, mas nada que se comparasse com o tal.

Ainda existe hoje, mesmo junto ao caminho da Cabana, a cerca de 100 metros do solar dos Ciprestes, um enorme e frondoso sobreiro,  que até há duas décadas atrás foi considerado por todos, o maior sobreiro da redondeza. Presentemente já lhe falta a maior parte das pernadas do seu porte, derrubadas por algumas faíscas de trovoadas caídas e de várias doenças de sequeiro dos inúmeros anos que já carrega. São necessários os braços de três homens para abraçar o seu tronco.

Era por debaixo ou junto deste velho sobreiro que já não sabe a idade, que até por volta do inicio da década de 70, quatro ou cinco pessoas mais pobres e chefes de família se colocavam com as suas armas de caça de um ou dois canos, normalmente caçadeiras de carregar pela boca, para matar um ou outro pássaro mais graúdo: pombo, rola, gaio, papa-figos (amarelante) e pica-pau, que se pousasse na árvore, para de imediato, o levar para casa, para servir de molho e peguilho (conduto) às batatas que coziam no pote. Havia quem aguentasse nesse local  duas horas ou até mais escondido, quieto e atento, à espera de poder matar um “magro e esqueléctico” gaio adulto que se pousasse por lá, tendo em conta que são aves autóctones que normalmente vagueiam de árvore em árvore o ano inteiro e todo o dia e, se o conseguissem fazer, seria uma boa caçada.

Ouvi dizer aos senhores Artur Feijão e António Patrocínio Teixeira, que muito perto deste sobreiro, existiu um outro do mesmo porte e que foi derrubado pelo mesmo ciclone de 1941, devido às raízes que sustentavam a árvore estarem muito à superfície da terra, em cima de lajes com pouca terra e que houve enorme dificuldade em cortar o tronco.

Outras árvores existiram na nossa aldeia de alguma importância, se bem que de bastante menos porte, tais como as duas grandes amoreiras que davam graciosamente de matabichar, almoçar e merendar a muita gente no período do verão, sobretudo a rapazes e raparigas. A da falecida senhora Laudemira da Cunha “Cagigal” a poente na cortinha de sua habitação no cimo do bairro do Sobreiró que ainda se lá conserva hoje (2014) e outra que existiu na confrontação e início do caminho do bairro de Stª. Maria Madalena, cortada pelo proprietário Senhor Francisco Mofreita, por volta do início dos anos 90 por influência do falecido Doutor Luís Lopes, homem de poder e posses que não deixou grandes recordações na freguesia. Esta última era a mais importante pois era considerada, na altura, verdadeiramente pública por não haver muro ou algo de proteção de propriedade privada. Era uma árvore de fácil subir, tendo em conta que tinha uma certa inclinação para a parte do caminho. Mais tarde, no mesmo local seu filho Luís plantou uma filha dessa velha árvore que hoje se conserva.

Ouve ainda outra bastante grande no pátio particular da casa dos Videiras no bairro dos Ciprestes, mas muito pouca gente se atrevia a comer amoras sem consentimento do patrão. Foi cortada pelo proprietário senhor Raúl Victor Videira também por volta da década de 90.

Na quinta da “Teixogueira de Cima” (como é hoje chamada por divisão da propriedade) ainda se conserva hoje (2014) um velho diospireiro plantado na década de 50 ou até menos, o único que existia na nossa freguesia e talvez vizinha até por volta do início da década de 90. Os pequenos que abundantemente dava e ainda continua hoje (2013)  a dar eram a maior parte deles roubados pela rapaziada normalmente durante  a calada da noite, que os não deixava sequer amadurar ficando a boca muito grosseira. Nem mesmo o proprietário, senhor “Toninho da Quinta”, como habitualmente e respeitosamente era chamado por todos nós e que habitava ao lado, conseguia com os seus cães do gado afugentar a rapaziada e outros bem mais velhos, quer da nossa aldeia quer da de Fornos do Pinhal. Não muito longe, a cerca de cem metros para sul, existiu e ainda hoje existe um velho merodeiro ou medronheiro mesmo junto à entrada da porta principal da quinta.

Também numa propriedade de Laudemira Cunha no Valbemfeito havia três enormes cerdeiros e uma ginjeira no fundo da vinha. Dos dois maiores, um da qualidade bical e outro com o fruto bastante mais pequeno, cerdeiros esses encostados a uma agueira divisória. O outro, bastante mais pequeno, ficava mais acima junto a uma mina e, na propriedade de seu irmão “Toninho Cunha” no lugar da Coitada um pouco mais abaixo de Valbemfeito, um outro de qualidade bical. Atendendo  que eram quase os únicos cerdeiros que havia da nossa aldeia até por volta de início da década de 80, para além de um pequeno cerdeiral de árvores de pequeno porte numa vinha da Dª. Helena Lobo, “Dona” Helena como era chamada por todos, onde hoje se encontra o campo de futebol e de um ou outro na Quinta da Teixogueira na altura do professor Carolino, os donos, se quisessem comer alguma cereja das suas árvores, tinham que fazer guarda permanente aos cerdeiros de dia e de noite. Lembro-me de também existir uma pequeno cerdeiro  no centro da aldeia por detrás do jardim das Aminhas e perto do início da rua da escola e estrada, na propriedade de António Lopes, agora de sua filha Emília, fruto esse que a rapaziada, através das investidas nocturnas, não deixava amadurar.

Lembro-me ainda de só existirem seis laranjeiras em toda a aldeia até meados dos anos 90: uma delas junto às casas dos Videiras no bairro dos Ciprestes que já não existe e da Dª. Margarida no mesmo bairro que já também não existe, outra junto ao solar dos Ciprestes, outra junto à casa do falecido senhor Adolfo Simão no bairro do Sobreiró, agora de sua neta Zita, que também já não existe desde o início da construção da nova moradia, outra junto à casa da Dª. Helena no bairro do Pontão e outra de fruto não muito adocicado no casal do Barrosão, agora de sua filha Fernanda, que ainda lá se encontra e que guarda imensas memórias e recordações de outros tempos. Perto dessa mesma laranjeira também um velho damasqueiro, o único na aldeia ou até mesma freguesia e que penso que ainda hoje (2014) dá frutos.

 

Lagares do Vinho Cavados ou Escavados na Rocha

Estes lagares rupestres do tempo dos romanos (ou até dos mouros, quiçá?) de fazer o vinho, que se encontram nos montes da nossa freguesia, só começaram a despertar alguma curiosidade e interesse às gentes da nossa terra por volta de 2007 ou 2008, data essa em que o Dr. Adérito Medeiros Freitas resolveu, com o patrocínio da nossa Câmara Municipal e de algumas Juntas de Freguesia do concelho como a nossa, começar a fazer um trabalho de pesquisa e divulgação sobre este tema. Também o “Site” de Santa Valha tem sido muito importante para a divulgação e promoção deste património ancestral que estava perdido nos montes e no tempo.

A maior parte destes lagares cavados ou escavados na rocha estavam cobertos com terra, pedras, musgo e até algum mato pelos inúmeros séculos de existência, desconhecendo a população qual o significado e a enorme história e riqueza cultural que guardavam, legado deixado pelos nossos antepassados. Isto é sinal, de que o vinho, desde sempre, fez parte da cultura das gentes da freguesia de Santa Valha.

Actualmente estão já inventariados e catalogados 29 lagares nos montes da nossa freguesia, sendo 25 no termo de Santa Valha e 4 no de Pardelinha, de acordo com o soberbo trabalho reportado nos dois livros editados - Lagares Cavados na Rocha: 1ª e 2ª. Edicções - de 2010 e 2012 pelo Dr. Adérito Freitas, professor e investigador arqueológico, pessoa com muito conhecimento, não só sobre este assunto, como outros mais. Nessa tarefa colaborou também a nossa Junta de Freguesia, presidida na altura por Jorge Castro, particularmente o secretário Carlos Vieira e eu mesmo -Amílcar Rôlo-, os dois portadores do mesmo gosto e interesse por estas coisas arqueológicas e de outras da natureza. Até hoje, início de 2015, não foi descoberto qualquer lagar no termo da anexa do Gorgoço, o que é de estranhar, visto ser, desde sempre, um excelente termo de bom vinho.

É necessário e urgente melhorar os acessos aos locais para quem pretenda visitá-los nomeadamente a pé, tendo em conta que alguns têm que ser por meio de corta-mato. Outra dificuldade é a do acesso ao interior de uma ou outra propriedade particular, como a do ex-casal do Barrosão na Santa Olaia, local onde se encontram bastantes lagares e que deveria ser negociada com os proprietários pelas entidades competentes.

Na mesma rota,  mesmo no cimo da parte nascente do monte do Crasto  onde tudo indica ter sido o local ou um dos locais contíguos onde nasceu o primeiro povoado da nossa aldeia e sítio de defesa de possíveis invasores da comunidade romana quando passaram por cá e se vieram a instalar, a uns escassos não mais de 70 metros a norte de um lagar, é possível ver ainda outros vestígios romanos tais como: altar de sacrifícios, fraga da(s) serpente(s) e uma rocha com cavidades de vários tipos quase contígua. Ainda, um pequeno castro e algumas muralhas tudo em ruínas, e um pouco mais a sul e nascente outras rochas ou fragaredos com inúmeras cavidades feitas pelo homem, cuja pesquisa e divulgação de todos estes temas encontra-se publicada num livro editado também pelo Dr. Adérito Freitas em 2011 com o seguinte título: Corpus dos Petróglifos do Concelho de Valpaços.

Quanto aos acessos atrás referidos, fica aqui o reparo à nossa Junta de Freguesia e à nossa Autarquia com mais particularidade, bem assim como também a não existência de um roteiro turístico sobre esse importantíssimo interesse arqueológico, assunto sempre comentado pelos visitantes nas várias visitas em grupo que já se realizaram, onde já se incluíram nessas mesmas visitas alguns turistas espanhóis que quiseram saber também um pouco da sabedoria milenar de fabricar o vinho. De igual modo a existência de um guia habilitado na matéria seria importante e interessante, fundamentalmente para visitas em grupo.

Essas visitas são muito importantes para a nossa freguesia, tendo em conta também o interesse comercial nas várias vertentes. Por exemplo, em 2014, foram feitas duas visitas em grupo, cada uma com cerca de 30 visitantes guiados pelo Sr. Engº. Augusto Sequeira Lage ex-Vice-presidente da Câmara e ainda Miguel Neves e Carlos Vieira do executivo da Junta de Freguesia, tendo o almoço sido servido a essas pessoas na casa de turismo rural da Quinta dos Ciprestes, onde se degustaram no convívio vinhos e outras iguarias da nossa terra. Disseram-me, que depois dessas últimas visitas já houve mais interessados, sendo a maior parte deles fora do nosso concelho, mas a falta de um guia ou acompanhante habilitado, demoveu-as de tal interesse.

Após o lançamento da segunda edição do livro do Dr. Adérito, já foram descobertos no termo da nossa freguesia mais três lagares, um em Santa Valha no monte do Crasto, perto do caminho de/para Santa Olaia e mais dois em Pardelinha: um numa antiga corriça/adega, no lugar de Valongo de Cima e/ou Ladeira ou Raposa - que dizem pertencer a Domingos Capela de Monte de Arcas - a sul perto de outra corriça/adega onde existe um já inventariado e outro no lugar da Ladeira do lado de lá do regato, numa propriedade de Maximino Coelho. Os trabalhos de limpeza, identificação e catalogação ainda não se encontram feito. A descoberta dos lagares de Pardelinha e até de alguns no termo de Fiães deve-se ao filho dessa pequena localidade, Miguel Serra, pastor de profissão, que também ajudou na respectiva limpeza, tornando-se entusiasta por estes importantes achados arqueológicos que os nossos antepassados nos deixaram.

 

Emigração de filhos da terra:

A primeira emigração iniciou-se para o Brasil em finais do século XVIII e início do século XIX. Mais tarde, nas décadas de 1940 e 1950 para as ex-colónias de Angola e Moçambique, onde fomos colonizadores cinco séculos. Mas foi nos anos 60 que se iniciou a grande emigração dos filhos da terra, para os Estados Unidos, Espanha e, sobretudo, França, pais este que acolheu a grande maioria dos nossos emigrantes, na altura pessoal de trabalho não qualificado, uma grande parte mesmo analfabeto ou pouco mais do que isso.

Os censos de 1960 registam a maior densidade de população residente da nossa freguesia, 1454 residentes, mas com o regresso (da descolonização de Angola e Moçambique) dos “filhos da terra” em 1975/1976, “Retornados”, como eram conhecidos, temos a certeza, que este registo foi ultrapassado.

Quem diria que passadas tantas décadas novos picos de emigração iriam surgir novamente no nosso país, sobretudo nos anos de 2012 e 2013 devido à crise económica e financeira que temos vindo a travessar desde 2008, por ventura com os mesmos números de saída de portugueses para os estrangeiro dos anos 60 há procura de trabalho, onde cá também não existia na altura nenhuma qualidade de vida.

Desta vez são os jovens à procura do primeiro- emprego, bem assim como outros de meia-idade que ficaram desempregados e á procura de novas oportunidades que aqui não conseguem, mas desta vez com maior incidência para Angola, Moçambique, Inglaterra, Brasil, Suíça e outros, sobretudo por parte da nossa juventude. De acordo com  dados colhidos, só em 2013, saíram do nosso país mais de 121.000 pessoas para esse fim. Desta vez não emigraram pessoas analfabetas e de baixa cultura como foi a grande maioria da década de 60, mas sim jovens e menos jovens quadros licenciados e até doutorados, a maioria com elevada capacidade académica e profissional que custou muito dinheiro ao nosso país para a sua formação. Estamos muito perto de 2014 e não se vislumbra nestes tempos próximos melhoria no emprego.

 

Último Regedor de Santa Valha

O último regedor da nossa freguesia foi Artur Domingues Gonçalves, respeitosa e carinhosamente mais conhecido na nossa terra, por Artur Feijão ou Artur Bombinho, coadjuvado pelos Cabos de Polícia ou Regedor: Amadeu Moreiras (Pedreiro) de Santa valha, e Manuel Vaz (Carolino) do Gorgoço. Antes de Artur Feijão, (penúltimo e anti-penúltimo), foram: João Manuel da Mata Barrosão e Gualdino Nogueira), ambos já falecidos.

Este cargo foi extinto em todo o país no ano de 1976, com o fim da ditadura e opressão fascista, que terminou em 25 de Abril de 1974. 

 

Nota: Reproduzo aqui novamente a memória inserida no  espaço deste Link: As minhas Memórias

Memórias do último Regedor de Santa Valha:

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O Regedor foi uma antiga autoridade civil administrativa de uma freguesia, que até 1940, era o representante do Governador Civil, da sua confiança e por si nomeado. A partir dessa data, passou para a confiança e nomeação do Presidente da Câmara, com base no Código Administrativo dessa época (1940), que também o podia exonerar. Era, por isso, também a autoridade policial. Tinha que ser um residente local alfabetizado, com sentido de responsabilidade e bem conceituado no meio.

Era a ele que se dirigiam as queixas por desacatos em toda a freguesia. Caso não as conseguisse resolver e repor a ordem pública, deveria chamar de imediato a autoridade (GNR) mais próxima. Para além desse trabalho, tinha outras competências atribuídas: resolver zaragatas; roubos; policiamento de toda a freguesia, agindo de modo a garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade pública. Ainda, acompanhar as autoridades; publicação de Editais e Posturas Municipais, verificação de Licenças de Obras e outras Leis e Regulamentos Administrativos; informações diversas pretendidas pelo Governo Civil ou Câmara Municipal e ainda, censo da população; carimbar vistos da presença e/ou passagem da GNR pela freguesia, e até levantar autos de transgressão. Também auxiliar as autoridades sanitárias, garantir os regulamentos funerários, mobilizar a população em caso de incêndio e cumprir outras ordens ou instruções emanadas do Presidente da Câmara Municipal. Tinha ainda poderes para prender e, até, se necessário, castigar os faltosos, quando estes não se comportavam correctamente. Podia entrar em casa de qualquer pessoa, mas apenas entre o nascer e o pôr-do-sol.

Em todas essas tarefas, era coadjuvado normalmente por dois Cabos de Polícia, ou até mais, conforme a densidade populacional da freguesia, também conhecidos por Cabos de Regedor, pessoas de confiança do Regedor, propostos por si, ou pela Junta de Freguesia ao Governador Civil, e, mais tarde, ao Presidente da Câmara Municipal. Na ausência dos Cabos e em situações excepcionais, o Regedor, podia pedir  auxílio a um militar (tropa) que eventualmente estivesse na aldeia de fim-de-semana ou em férias, mas teria que fardar-se obrigatoriamente à militar. Este, tinha que obedecer.

Tanto o Regedor, como os Cabos de Polícia, recebiam no acto da posse, o respectivo Alvará do cargo e o carimbo de autoridade, faltando a maior parte das vezes a almofada para o molhar, que era adquirida a custo do Regedor. Não tinham qualquer remuneração (salário) e, se porventura, fossem chamados pelas Entidades do Estado para prestar quaisquer informações ou esclarecimentos, a maior parte das vezes deslocavam-se a pé, pois não recebiam qualquer importância para o transporte ou outros gastos.

O último Regedor a exercer este cargo na nossa freguesia, foi o Senhor Artur Domingues Gonçalves, também conhecido entre nós por Artur feijão. Nasceu em Santa Valha no dia 05/04/1927 e exerceu o cargo de 1968 a 1976. Foi proposto ao Presidente da Câmara, na pessoa do Sr. Dr. Morais Soares, pela Junta de Freguesia de então, presidida por Victor Teixeira Neves. Os Cabos de Policia que o coadjuvaram até à exoneração (1976), foram Manuel Carolino (do Gorgoço) e Amadeu Moreiras, também conhecido por Amadeu “Pedreiro”.

 

Últimos Regedores e Cabos de Polícia da nossa Freguesia

Regedores: Domingos de Castro Alves; Benjamim Picamilho; António Ribeiro(?); António Morais (Ferreiro); José Ribeiro; Raul Victor Videira; Gualdino Nogueira; João Barrosão, e, por último, Artur Domingues Gonçalves, que ainda se encontra entre nós e de que muito nos orgulhamos.

Cabos de Polícia: José Vicente Gonçalves; António Morico; Alberto Santos (Moleiro); Álvaro Alves (Pardelinha); Adriano José Garcia da Mata; Manuel Mota Barrosão(?); Cândido Catalão; Francisco Fontoura Fernandes; António Teixeira; Serafim Gomes (Gorgoço); Manuel dos Santos Vaz, mais conhecido por Manuel Carolino (Gorgoço); Francisco Barreira (Gorgoço) Sezinando Vaz (Gorgoço) e Amadeu Moreiras, falecido em 2001. No mundo dos vivos só estão: Adriano da Mata, Manuel Carolino, Sezinando Vaz e Serafim Gomes, que também nos honra a sua presença.

O Regedor tinha direito a usar pistola ou caçadeira, fornecida, ou não, pelo Estado, mas devidamente licenciadas. No exercício das suas funções, mais propriamente a  exercer a sua autoridade, o Senhor Artur, nunca necessitou de usar qualquer arma de defesa pessoal, nem nunca foi necessário recorrer à força, proferir palavras mais rudes e/ou insultuosas para quem quer que fosse. No cargo, sempre teve uma postura irrepreensível e todos o respeitavam. Enfim, “uma pessoa de bem”, que em primeira instância tentava manter o respeito, a ordem e a harmonia, junto da população da freguesia.

Já quanto aos Regedores e Cabos de Polícia da nossa freguesia, que lhe antecederam, quase todos eles foram portadores de armas de defesa pessoal e, até alguns, chegaram a utilizar a força em várias situações.

Antes dos Regedores, tinham existido os Comissários de Paróquia, nomeados em 1832 ou 1834. O Código Administrativo de 1836, substituiu o Comissário de Paróquia pelo Regedor, com competências semelhantes, se bem que houve algumas modificações ao longo da sua existência, mas genericamente eram análogas aos Administradores do Concelho. A última regulamentação dos Regedores, foi estabelecida pelos Códigos Administrativos de 1936 e 1940; partir dessas datas deixaram de ter o estatuto de Magistrado Administrativo.

Após o 25 de Abril de 1974, (fim do Estado Novo e entrada da Democracia) com a aprovação da nova Constituição da República (1976), algumas competência de regedor foram transferidas para a Junta de Freguesia. Ainda que a Junta de freguesia seja um órgão colegial, constituído por um Presidente, um Secretário, um Tesoureiro e Vogais, a figura do Regedor acabaria por ser transferida para o Presidente da Junta de Freguesia, sendo, por consequência o seu equivalente no novo regime constitucional.

 A figura do Regedor de Freguesia foi totalmente extinta na sequência da introdução da Constituição da República de 1976.

 

Nota: A maior parte destas memórias foram colhidas por mim, junto do “nosso último Regedor”, Sr. Artur, pessoa, que, apesar dos seus 82 anos, ainda é portador de uma lúcida e excelente memória, não só para contar esta história, como também muitas outras que já lhe ouvi, quer do seu tempo, quer dos seus pais e avós.

 

Poderão, muito provavelmente, ter existido mais Regedores ou Cabos de Polícia, mas foram só estes que de momento lhe vieram à memória.

Santa Valha, Outubro de 2009  -  Amílcar Rôlo

 

Endireita ou Curandeira (Ortopédica):

Até finais da década de 70, existiu na nossa aldeia, mais propriamente no Bairro do Sobreiró, início da aldeia e junto à estrada, uma mulher, que (se) dizia saber concertar ou “endireitar” algumas partes do corpo humano que estivessem fora do sítio, vulgarmente ditos por “desnocados”, tais como: os ossos das pernas, dos braços e dedos e os tendões, quando  proveniente, por exemplo, de alguma queda.

Chamava-se a isso, ir ao “endireita”. Essa pessoa era a “saudosa” Marcelina; mulher bem constituída, que na maior parte do ano andava descalça, dado os seus pés serem rasos, bastante largos e cumpridos. Era mais a fé dela na prestação do serviço, do que a sua sabedoria caseira. À rapaziada mais jovem com algumas posses, pedia sempre antes de começar o trabalho, que fossem a casa dos pais (sem eles terem conhecimento é claro..) buscar uma garrafa  - que tinha sempre vazia em casa - de aguardente para friccional, ou esfregar o local afectado, como dizia ela.

Antes de começar o trabalho, bebia sempre um copo dessa aguardente, dizendo a eles que era para saber se na realidade o produto tinha ou não qualidade, caso contrário, não iria fazer efeito à mazela e/ou desnocado, mas eram mais os que tinham que se socorrer a verdadeiros especialistas do que os que saíam de lá concertados.

Era uma mulher que gostava bastante de vinho e aguardente apesar de não os colher, e que, para além da sua humildade era também de uma simpatia e, acima de tudo, de uma seriedade inquestionável, que as pessoas de mais idade não esquecem. Ainda hoje é várias vezes lembrada por todos estes, particularmente das façanhas e brincadeiras alegres e respeitosas que ela proporcionava.

Tinha ainda um modo de se exprimir único e umas expressões populares muito engraçadas tais como: “dá ao menos aí um copo de aguardente para enxaugar (enxaguar) os queixos!?” Acrescentaram ainda que se havia um ou outro com algum rendimento que lhe pagasse, era em produtos da lavoura, normalmente uma remia ou cântaro de vinho, ou alguma aguardente.

A pequena e humilde casa onde residia com o marido, conhecido pelo Zé Moleiro, chegou e sobrou, não só para os dois, como ainda para criar os vários filhos que tiveram ao longo da vida, vivendo todos felizes como a maioria pobre de então.

Passadas quatro décadas da sua morte, a curva da estrada junto à sua casa (hoje em ruínas), continua ainda a ser conhecida por todos da aldeia como: “ A Curva da Marcelina”. Daí o nome da prova desportiva de carrinhos de rolamentos denominada “Descida da Curva da Marcelina” que nestes últimos anos se tem realizado na tarde de sábado da nossa festa em honra de São Caetano, em homenagem a essa excelente pessoa e de bom coração então, que foi a Senhora Marcelina. Este ano (2014) foi a V prova realizada.

 

Primeiras Eleições Autárquicas (por voto do povo) Democráticas.

Aconteceram em 17-12-1976

Composição da Junta de Freguesia:

Presidente: Francisco dos Santos Rolo

Secretário:  Manuel Joaquim Fontoura  

Tesoureiro: Augusto Ervões.

Vogal: Aniceto Picamilho.

Nota: Essa candidatura vencedora foi proposta pelo partido PPD, agora PSD. Em segundo lugar ficou a lista do CDS, encabeçada pelo candidato João António Fernandes (Pedrinho). Desconhece-se se nessa primeira eleição já havia o órgão à Assembleia de Freguesia.

 

Louvados e louvações de propriedades:

As propriedades rústicas (terras de cultivo e outras), nos termos da Lei, só em 1960 é que foram correctamente registadas nas matrizes prediais das Repartições de Finanças do Estado.

Para esse efeito, em 1958, existiram Comissões de Registo e Louvações, chamadas na época de “Louvados”, que não só identificavam e registavam a propriedade com o nome de localização, confrontações, área,  e número matricial, como também, lhe atribuíam o valor patrimonial tributável, para efeitos de pagamento anual de contribuição, conhecido nessa época e durante muitos anos por “décima ou finta”, mais tarde, por Contribuição Autárquica, e agora, por (IMI) - Imposto Municipal Sobre Imóveis.

Nesses registos, havia sempre um ou mais elementos da aldeia/freguesia que faziam parte dessas comissões. Na nossa, recordam-se ainda de uma, o (falecido) Sr. Lafaiette Alves, que residia no largo do bairro do Pontão, agora casa do (também falecido) Manuel “Mudo”.

Consta-se, que antes de 1960 havia um registo matricial muito desactualizado e que se destinava só ao pagamento da contribuição, mais conhecida nessa época por, finta ou décima.

As propriedades urbanas (casas de habitação e outros) foram registadas em 1937, no entanto, desconhecemos o nome das pessoas da nossa terra que fizeram parte da comissão de louvados.

 

Pátio do largo do Sobreiró.

Segundo vagas informações que consegui colher, este secular casario, onde antigamente englobava também a parte urbana contígua a poente que confronta com o caminho, posteriormente reconvertida ou requalificada em habitação, cabanal e quintal, pelo novo comprador, que pertence agora aos herdeiros de José Fontoura e esposa Laurinda, pertenceu outrora tudo aos patriarcas Fernandes, “João Fernandes e esposa Marquinhas”, casal de muitas posses até por volta de meados ou finais da década de 40 do século passado (XX), data de seus falecimentos. Todo esse casario terá sido comprado pelo senhor João (e/ou Dª. Marquinhas), sendo um deles natural ou oriundo da pequena localidade de Monte-de-Arcas, a alguém da aldeia (ou não?), não se recordando ninguém de ouvir falar aos mais antigos da origem do imóvel.
Nunca se constou que tivesse sido propriedade de algum padre, porventura sim aposento de família de Morgados, atendendo à superfície total de todo o imóvel (hoje dividido em várias parcelas) e à imponente porta-carral de acesso principal, com uma cruz ao centro e duas pirâmides laterais todos em granito, a indicar gente de posses e certamente alguma nobreza.
Disseram-me ser um ilustre e distinto casal, gente muito séria, bondosa e respeitada por todos. Ainda, pessoas influentes e de muitas posses, quer em propriedades agrícolas, quer em dinheiro, ao ponto de ser considerada nessa época essa gente, o banco do povo da redondeza. Só três ou quatro décadas antes o “ Cego da Coutada”, de verdadeiro nome João Evangelista Fernandes, casado com Carlota Ferreira, homem do mesmo apelido mas sem qualquer laço familiar entre eles, tinha tantas ou mais posses ao ponto de nessa altura ser considerado o sétimo mais rico da Comarca de Valpaços.
Foi nessa casa e pátio, que em 1946, pela altura da páscoa, foi ensaiado e saiu o cortejo religioso vivo com mais de cem participantes, que foi as últimas “Endoenças” realizadas na nossa aldeia e que duraram toda a tarde de dois dias seguidos, até terminar a última parte da representação do auto no Calvário, ou seja: dentro do adro da nossa Capela de Santa Maria Madalena.
E é isto o que consegui apurar junto de uma pessoa já com bastante idade e que residiu nesse bairro do Sobreiró. Já agora, quem tiver mais alguma coisa a acrescentar, seria interessante.
Quem estiver interessado em ver a foto dessa tal ilustre família, poderá fazê-lo no Site de Santa Valha, Link- Fotos Antigas- 3º Álbum, foto 8.

 

Salário Mínimo Nacional:  

O primeiro salário mínimo atribuído aos trabalhadores em geral foi instituído em 27 de Maio de 1974, por iniciativa do primeiro governo provisório liderado por Adelino Palma Carlos. Tinha o valor de 3.300$00 - três mil e trezentos escudos ou três contos e trezentos como o povo costumava dizer -, equivalente hoje a 16,46€.

Em 16 de Junho de 1975 passou para 4.000$00 (escudos), equivalente hoje a 19,95 €.

Não estava aqui incluído o serviço doméstico e agricultura; nestas duas actividades, só em 01 de Janeiro de 1977 é que foi instituído o salário mínimo para 3.300$00 e as restantes actividades passaram a auferir 4.500$00.

 

Barreiros foi anexa a Santa Valha:

Ainda há bastantes pessoas na nossa aldeia que se recordam da aldeia vizinha de Barreiros ter sido anexa a Santa Valha, outrora com o nome de freguesia de São Vicente de Barreiros, porventura até 31 de Dezembro de 1853, fim extinção do concelho de Monforte de Rio Livre onde estávamos inseridos e constituído o concelho de Valpaços.

Deixamos aqui o registo de 27/04/1939 do Padre João Vaz de Amorim, quando se refere a esta aldeia, para além de outros assuntos descritos.

“Publicação:  Revista Aquae Flávia Nr.14 de Dezembro de 1995 – Padre João Vaz de Amorim (1880/1962), conhecido por “João da Ribeira” – Comércio de Chaves 1939/1947 – Título: Por Montes e Vales Terras de Monforte e Terras de Montenegro: Página 51”

Nota: Também há quem diga que (o lugar de) Barreiros já fez parte da freguesia de Sonim.

 

Desavenças antigas entre aldeias:

Era normal antigamente, existirem desavenças antigas entre aldeias vizinhas. Entre Fornos do Pinhal e Santa Valha também se passou o mesmo, apesar da gente de Santa Valha nunca ter levado isso a sério e até mesmo nunca ter chegado a compreender bem este caso, mais sim, alguma gente de Fornos do Pinhal, que ainda hoje conserva algumas ideias desse tempo, sobretudo a mais idosa, que até chegou a inventar um poema nessa altura:

Poema de Desavenças Antigas…..:

Santa Valha deu um tombo,

Ó Barreiros tente-o lá,

Ó Gorgoço não te assustes,

Que Fornos avança já.

*Sinal de desavenças entre localidades vizinhas em que, os habitantes de algumas,  eram mais amigos de umas, do que de outras. Aqui, a gente de Fornos do Pinhal foi sempre amiga da gente do Gorgoço que é anexa a Santa Valha e, Santa Valha da de  Barreiros e, vice-versa. Só por volta do início da década de 80, já com a juventude a ter mais acesso á cultura é que se foram perdendo estas estúpidas antigas desavenças.

Deixamos aqui o registo de 12-10-1940 do Padre João Vaz de Amorim, onde aborda este tema  passado na altura nesta localidade, para além de outros assuntos culturais e de usos e costumes descritos da mesma. (Páginas 125 e 126)

“Publicação:  Revista Aquae Flávia Nr.14 de Dezembro de 1995 – Padre João Vaz de Amorim (1880/1962), conhecido por “João da Ribeira” – Comércio de Chaves 1939/1947 – Título: Por Montes e Vales Terras de Monforte e Terras de Montenegro.”

 

Na página 74 do mesmo livro do Padre João Vaz de Amorim de 08/VI/1939, diz o seguinte:

“ E vamos ultimar os nossos trabalhos de hoje, apresentando ao leitor, como curiosa nota etnográfica, apodos ou alcunhas regionais pelas quis são conhecidos os habitantes dalgumas povoações de Monforte:

Galhos - Negros os de Fornos do Pinhal; Unhas-demos de Santa Valha; Bruxas de Pardelinha; Gorras de Monte de Arcas; Talouqueiros da Agordela; Assistentes de Tinhela; Azeiteiros são de Mairos; A nobreza é de Casas; Denguezinhos de Lebução; Calca-foles os de Pedome; Descalcinhos de Bouçoais; Torgueiros os de Vilartão; Pucareiros são de Nantes; Paneleiros de Vilar e Moleiros os da Ribeira, - todos três a maquiar. “Refª: Recorda-se aqui o tempo em que se trocava, por centeio ou outro género agrícola, as panelas de Vilar e os púcaros de Nantes.”

Obs: Como Santavalhense com quase seis décadas de idade, nunca se me constou, nem nunca ouvi falar a ninguém, que aos habitantes da minha terra lhes chamavam ou chamaram antigamente de alcunha “ Unhas-demos ” – Demos, quer dizer em latim, demónio e em Grego: povo ou população - nem aos de Fornos do Pinhal “Galhos-negros”. Já quanto aos restantes, alguns destes ouvi falar.

 

Memórias do Rio Calvo:

 

“Por Leonel Salvado – Clube de História de Valpaços”

 

O rio Calvo, afluente do Rio Rabaçal, ainda é uma das referências do património natural do concelho de Valpaços que em vários locais do seu quadrante setentrional proporciona aos visitantes boas oportunidades para desfrutarem de ambientes de frescura e paz de extraordinária beleza paisagística que fazem a maravilha dos espectadores especialmente dos mais nostálgicos. Tem admiravelmente merecido o maior apego e carinho da parte dos moradores (de várias gerações!) das localidades que lhe estão próximas.

Mas para além da beleza natural que ainda nos oferece, o rio Calvo foi acima de tudo, durante séculos e até um passado relativamente recente, uma fonte essencial de recursos para a sobrevivência de algumas comunidades localizadas nesse espaço. Das suas águas se serviam os povos, na maior parte dos casos livremente, para “limarem prados e Linhares”, regarem terrenos de cultivo, darem de beber ao gado, fazerem funcionar moinhos e azenhas e obterem variáveis castas de peixes. Na maior parte das suas margens abundava uma grande variedade de vegetação silvestre e árvores de grande porte e noutras partes se viam cultivar as terras de vinhas, castanheiros e outras árvores de fruto.

 

 

O Rio Calvo visto por uma lebuçanense dedicada às coisas do Património

 

«Chama-se Calvo e corre em leito apertado, aconchegante, junto dos moinhos do Pimentel, como são conhecidos.

Há uma manta verde, muito verde, que cobre a área envolvente, salpicada de outros tons, agora que é Primavera.

O rio canta melodias, batendo nas pedras que descansam no leito e, muitas vezes, adormece à sombra dos amieiros que lhe bordam as margens.

Já foi pão que matou a fome do povo, quando as suas águas faziam mover as mós dos moinhos que labutavam dia e noite, numa azáfama que não tinha fim.

Hoje, os moinhos estão desmantelados pelo tempo e pela incúria do homem, mas há memórias, doces memórias, que jamais se desvanecerão.»

 

Graça Gomes, “Sei De Um Rio”, in Lebução de Valpaços

 

O rio Calvo, segundo Adérito Medeiros Freitas

 

«O rio Calvo nasce nas proximidades de Dadim, concelho de Chaves, como nome de Ribº de Lamigueiras. Tem como afluente, na margem direita, a Ribeira do Porto de Veiga. Depois da Ponte da Pulga (E.N. 103), adquire a designação de Ribeiro da Pulga; esta ponte foi destruída por uma violenta trovoada que ocorreu no dia 17 de Junho do ano de 1939. Nas proximidades da aldeia e freguesia de Nozelos é chamado Ribº de Nozelos e, a partir das proximidades de Tinhela recebe a designação de Rio Calvo. Em resumo, o Rio Calvo passa nas proximidades das aldeias de Pedome e Nozelos, e por Tinhela, Agordela, Calvo e Vale de Casas indo, finalmente, desaguar na margem direita do Rio Rabaçal, depois de ter passado pela Ponte Romana do Arquinho. […] Existiram, ao longo deste curso de água, 44 moinhos hidráulicos (43 moinhos de rodízio e 1 azenha).»

 

In Moinhos (Moinhos de rodízio e azenhas), Concelho de Valpaços, Vol. I, CMV,2009, p. 156

 

Se recuarmos aos meados do século XVIII encontramos em alguns documentos, entre outras informações, indicações acerca desta realidade, nem sempre muito claras e condizentes mas suficientemente conformes com ela.

 

O Rio Calvo nas Memórias Paroquiais de 1758

 

LEBUÇÃO - A crer no pároco memorialista desta freguesia, no século XVIII o rio Calvo tinha origem na conjunção das águas de duas nascentes distintas, ambas localizadas dentro dos limites da freguesia (abadia) de Cimo de Vila de Castanheira (actualmente do concelho de Chaves), a primeira no sítio do Pereiro (que entretanto terá secado) e a segunda junto à aldeia de Dadim, a que actualmente se tem por única nascente. O seu percurso pelas terras do actual concelho de Valpaços era já descrito pelo mesmo pároco de Lebução, grosso modo em conformidade com a descrição de Medeiros Freitas, ao mesmo tempo que destacava a grande quantidade de moinhos nele em actividade, desta forma:

 

«Pela parte do Poente e margens das terras de Tronco corre um regato que neste lugar se lhe pode chamar rio, o qual nasce num sítio chamado Pereiro que é termo de Cima de Vila de Castanheira e este se junta com as águas do lugar de Dadim aonde chamam Valados, as quais juntas e incorporadas umas nas outras fenecem o regatinho que por diminuição não tem nome distinto e vai formando um ribeiro com elas que se chama ribeiro da Pulga no qual há infinitos moinhos. E tem o tal regato uma légua de comprimento, de onde nasce, que é na parte do Norte, até quando chega ao lugar de Pedome, anexa desta freguesia e ali tem uma ponte de pedra e de pau, onde se passa para o lugar de Tronco.

E logo mais abaixo tem outra ponte que é somente de pedra e que fica na estrada Real que vai de Chaves para Bragança. Este ribeiro vai dilatando seu curso, que é presente em todo o ano, por uma veiga abaixo que é termo de Nozelos e Tinhela a cujos lugares corre vizinho. Porém, ao de Tinhela se avizinha mais aonde tem uma ponte melhor do que as outras de que acima falámos, pela qual entram e saem os que vão e vêm da parte do Sul para cujo lado fica a dita ponte a respeito do tal lugar.

 

O Padre [cura] António Fernandes d’Além»

 

ANTT - Memórias paroquiais, vol. 20, n.º 71, p. 527 a 540

 

 

NOZELOS - O Pároco de Nozelos, pela mesma data, também assinala o “sítio do Pereiro” como a nascente do Rio Calvo,(“o que corre pela parte do Nascente”). Como se vê pelo excerto que se segue, dá-o pelo nome de “ribeiro de Pedome” e descreve as suas principais virtudes, a montante de Nozelos, e defeitos, sobretudo a jusante da mesma freguesia.

 

«Nesta terra não há rio. Nesta terra há dois ribeiros, os quais correm girando este lugar, um pela parte do Nascente e outro pela do Norte, e ambos se juntam no termo deste lugar no sítio chamado as Olgas e o que corre pela parte do Nascente tem o seu nascente daqui na distância de uma légua, no sítio chamado de Pereiro, termo de Cimo de Vila de Castanheira, freguesia de São João Baptista, e corre por terra infrutífera, porém os moradores de Cimo de Vila lhe divertem as águas para limarem os prados e Linhares com ela e o mesmo fazem os moradores da quinta de Pedome, que corre distante dela dois tiros de pedra, e entrando neste termo tem o mesmo efeito de limar os prados e linhares deste termo até onde se junta com o que corre pela parte do Norte para o Sul e, juntamente, nele há duas casas de moinhos, cada uma com duas rodas, para centeio e trigo, que moem ordinariamente desde o mês de Dezembro até ao de Maio e nele há umas castas de peixes que nesta terra se chamam escalos, os quais se extinguiram pela grande seca, porque no estio é preciso buscar algum poço mais fundo para nele beberem os gados e, assim, não cria senão escalos, rãs e cágados. Este tem o nome de ribeiro de Pedome porque passa somente na quinta chamada Pedome e tem um pontão de três traves de pau cobertas com pedras. E o que passa pela parte do Norte que nasce no sítio chamado da serra das cortiças, do termo de Bobadela, daqui distante meia légua, é mais pequeno, porém com mais substância e é mais saturável no Verão e tem o mesmo efeito de limar prados e Linhares deste termo e tem quatro casas de moinhos e as mesmas castas de pesca e, tanto que se juntam ambos não têm utilidade alguma neste termo porque correm pelo melhor sítio de terras de centeio e nelas fazem algum dano e daqui três léguas se metem no rio chamado Rabaçal.

 

O Padre Caetano de Sá Pereira, Confirmado do lugar de Nozelos»

 

ANTT - Memórias paroquiais, vol. 25, n.º (N) 42, p. 293 a 302

 

 

POSSACOS – O pároco desta freguesia que designa o Rio Calvo por “Ribeira de Vale de Casas”, também realça a grande quantidade de moinhos nele existentes:

«Passa por esta terra uma ribeira que vem de Vale de Casas. Esta corre com bastante curso por todo este termo e tem moinhos bastantes de centeio. E tem esta um arco de pedra por onde se passa para o Bispado de Miranda e é de pedra lavrada e, dizem, tinha este dois padrões feitos à romana; um foi para Vale de Telhas e outro, dizem, veio para este lugar. Esta ribeira se mete logo dentro deste termo em um rio chamado rio Rabaçal que traz seu nascimento do Reino de Galiza e corre por este termo pela estremadura do Bispado de Miranda.

O Pároco, vigário, Padre Baltazar Fernandes de Figueiredo»

 

ANTT - Memórias paroquiais, vol. 30, n.º 236, p. 1813 a 1816

 

 

SANTA VALHA – Por fim, o Abade de Santa Valha ainda que aparentemente equivocado quanto à nascente do rio Calvo é o único dos quatro párocos-memorialistas que o designa por este nome, a jusante de Tinhela, fazendo uma descrição suficientemente detalhada dos seus recursos e do seu percurso.

 

«Neste lugar de Santa Valha somente há quatro ribeiras, uma chamada o rio Calvo que nasce no lugar de [Lomba?] e suas montanhas. Nasce brando e pequeno e corre todo o ano. Entra nele uma ribeira de Alvarelhos por baixo do lugar de Tinhela, duas léguas distante da nascente. Não é rio de barcas nem capaz para isso. É de curso arrebatado em toda a sua distância. Corre de Norte para o Meio-dia. Cria muitos peixes chamados escalos. Nas margens se cultivam muitas delas de vinhas, terras, prados e tem muitas árvores de fruto, como são castanheiros, e silvestres, como são amieiros, salgueiros, carvalhos, medronheiros e outras muitas castas de árvores silvestres. Conserva sempre o nome de rio do Calvo. Morre no rio chamado o Rabaçal, rio caudaloso, no sítio do Cachão. Tem uma cachoeira no sítio de Cachão e por essa causa não sobem os peixes chamados barbos e bogas por ele acima. Tem três pontes de pau, uma chama-se a ponte de Tinhela que está no mesmo lugar de Tinhela, outra chama-se a ponte de Agordela, na quinta de Agordela, e outra na quinta do Calvo e chama-se a ponte do Calvo. Tem perto dele infinito número de moinhos, regueiros e [olmeiros?]. Usam os povos de suas águas livremente para as culturas.

Tem o rio seis léguas desde a nascente até aonde acaba e passa por seis povos: O primeiro é Tinhela, o segundo é Agordela, o 3.º é o Calvo, o 4.º é Vale de Casas, o 5.º é Poçacos e o 6.º é o Cachão.

 

O Abade, Padre Domingos Gonçalves»

 

ANTT - Memórias paroquiais, vol. 34, n.º 67, p. 601 a 606

 

 

 

 

 

Termos Típicos  - Autor:  “Blogue de Pedome” ( http://lamadeiras.blogspot.com/ ) de Armando Sena. A grande maioria destes termos também se aplicam na nossa freguesia, atendendo à proximidade.

 

Última actualização do Blogue: Julho de 2011.

 



 

Abada - Regaço cheio (dádiva com o objectivo de conseguir proveitos);

Abascado- Apalermado

Abêbora - Figo grande

Abéspora - Vespa

Aboucar - Fazer muito barulho

Acancelar - Meter o gado em cancelas, em terreno para estrumar

Acarrar - Transportar

Acarrijar- Transportar em carro de bois, usualmente palha

Açoga – Tira de couro que prende o jugo ao pinalho

Afoutar - Gritar

Aguilhada - Vara para guiar animais

Agulheta - Caruma de pinheiro

Alacraio - Escorpião

Alanzoar- dizer coisas à toa

Alcatruz - balde para tirar água da nora

Alustrar - Relampejar

Amadurar - Amadurecer
Amamotadas - Com mazelas de crescimento

Amanhar -

Ameroso - Macio, liso

Amover - Abortar animais

Arganel - Argola que se coloca no focinho dos porcos

Arganiço - magricelas

Apaparica - Mimar

Arranjar

Arrebunhar...arranhar

Arrecadar - Arrumar

Arrecaxada - De pernas abertas

Arreigar...arrancar pela raiz

Arrefuxir – Puxar as mangas para trás

Arreganhado - Aberto,Escancarado

Arrendo - Arrendamento

Arrepelar - Puxar os cabelos

Arriba - Puxar para cima
Arrouçar - Virar em espaço acanhado
Arroxo – Pau torto para esticar cordas, Punição
Aspado - Cheio de pressa

Avaloar - Avaliar

Aviaca – Aiveca, mulher desengonçada

Azagal – Ajudante de pastor

Azeiteira - Almotolia

Baixo - Armazém no piso térreo da casa

Balancim - Artefacto para lavrar com animal isolado

Balho – Gordura da barriga

Baraça – Cordel para fazer andar o pião

Baraço - Cordel

Benairo - Grande porção
Betrana - Gaja boa
Bilharda- jogo com um pau
Barleiro – Cesto de vime
Bebes - Cu
Berrão - Barrasco
Bilhó – Castanha assada, descascada.
Biqueiro - Pessoa esquisita quanto à comida
Blouro - Preguiçoso
Bondar - Chegar, bastar
Bota – Anda, vem, atira

Brochas – Metal para protecção dos socos

Bucheira – linguiça de carnes menos nobres

Burgatas - Frutos pequenos

Cabaça - Abóbora

Cabaçote – Pequena abóbora

Cabanal- espaço coberto para guardar lenha e alfaias agrícolas

Cachouço - Brincadeira

Cácimo - Planta de cujas bagas se retira um veneno

Cadabulho – parte lateral do terreno

Cainso - Cio

Caldo - Sopa

Canca - Idoso

Calhêa – caminho estreito ladeado de paredes

Cancela - Porta em grade feita de madeira
Cancelas – Vedação para os rebanhos
Cancha - Passo

Canear - Dormitar

Canelha- caminho estreito

Cangaço - Uvas depois de esmagadas

Cangalhas - Óculos

Canhoto – Pau grosso

Caniço – Rede para secar castanhas na cozinha

Capão - Molho de vides
Carabunha - Graínha, caroço pequeno
Carambina – Gelo formado pela geada

Carambelo – Frio extremo

Cardiela –Cogumelo amarelo, bebedeira

Carolo - Pedaço de pão

Carpins - Meias de lã

Carrachola - Cavalitas

Carranha – Macacos do nariz

Carramouço – Monte de coisas

Carrichas (às) - às costas (usa-se, levar às carrichas)

Cássimo – planta com sementes venenosas

Cascabulho - Monte de cascas
Castanheirol - Batateiro
Ceitoura - Foice
Cerdeira - Cerejeira

Cerrar - Fechar
Chaboto - Cigano

Chalmistreira - Impostora
Chamorro – Doença de coelho

Chanato - Calçado velho

Chabelão - Cavilha usado no pinalho dos carros de bois

Charguaço – Arbusto rasteiro usado como estrume

Chedas-

Chedeiro –

Chiasco - Vento frio
Chisquete - Pedaço pequenino de carne sorçada

Choquelateira - Cafeteira

Chouriça de verde – Chouriça de sangue

Chuclear...agitar

Chupa - Chaminé

Cibinho - Bocadinho

Cisqueira - Diarreia

Cito-cita – Fiscal camarário de obras

Coberta - Colcha

Cobrante – Doença de ossos

Côdeo – Pedaço de pão


Colmo - Telhado de palha

Concharra - Colher de lançar a sopa

Conchouço - Loja

Cornizó - Fungo do centeio, diz-se que usado para fabicar armamento

coroa...cimo, o ponto mais alto
Corpela - Crosta de ferida

Couracha - Pele de porco

Cortelhas - Entre pernas
Cortinha - Terreno de cultivo de grande dimensão normalmente vedado por muros 
Crencho - Contente

Crocha - Primeiro pedaço do pão

Crossa - Capa de palha

Cueiro - Fralda
Dafeito - Tudo seguido

De cacaranhas - De cócoras
Delambido - Palrador

Derindaina - Sova

Derrega – Rego para escorrer água de terrenos

Desandadela - repreensão
Desinçar - Eliminar, exterminar

Eivado - Com crescimento pequeno

Enforretado - Sujo de fuligem

Embarrar - Tocar, raspar

Embelga - Delimitação de terreno em corredores para a sementeira

Embloutar...sujar, enlamear

Embude – Funil muito grande

Emonar-se - amuar
Embuzilar - Comer de forma desmesurada

Encartar - Dobrar

Enchouriçar- encher alheiras e chouriços

Engaço - Ancinho

Engaranhado - Com frio

Engatinhar- começar a andar

Engrunhar - Encolher
Enta - Geração, colheita

Entre-telas – pessoa magra

Erbanço – Grão-de-bico

Esbarar - Escorregar

Esborralhar- demolir

Escanar – Dormir, Desfolhar milho

Escaravanar - Saraivar, Chover granizo

Esfoura - Diarreia
Esgoda - Grande canseira

Esmoucar - Partir a cabeça

Espalhadoura - Instrumento para espalhar estrume

Espanzurrada - Relaxada

Esparger - Espalhar

Espoldrar- podar

Estadulhos – paus de madeira para estabilizarem a carga

Estardalho – Pessoa sem nexo

Estrafogueiro – Objecto para pousar lenha na lareira

Esturgido - refogado

Famelga - Familia

Farinhota - Doença da vinha

Feiloa - Gás intestinal

Ferreiras – jogo à procura das pessoas

Filharasco - Enteado

Fingir – Dividir a massa em pão para cozer no forno

Finta - Contribuição

Fuga – Vigas horizontais onde assentam os lareiros do fumeiro

Fulcro - Media do polegar ao indicador

Futurar - Supor

Gabarrista - Gabarola

Gabela - Conjunto de objectos que se agarram e transpotam com os braços

Gadanha - Foice grande, pessoa qeu apanha tudo o que vê

Galela - Vinvima de restos da vindima principal

Galelo - Pedaço de uva

Galheiro – Pau para sustentar vegetais na horta

Gamechâme - Vinho de fraca qualidade

Gamela - Pia dos porcos
Ganapada, Ganapos - Jovens em geral

Garabano – Utensílio para tirar água do poço

Garavelho – Fecho de porta em madeira

Gemelgo- gémeo

Giga – Cesto de vime largo

Gramalheira- corrente de ferro que suporta a caldeira sobre o lume

Grandura - Tamanho

Grolo - Que não chegou ao fim da gestação

Guedelhudo – Que tem o cabelo comprido

Guiar - Compor, consertar

Guisote – Depreciativo de guisado

Herdança - Herança

Impontar- mandar embora
Indromineira - Enganadora, Impostora

Interpicar - Implicar

Laços - Corda comprida

Ladrais – tábuas que ladeiam os estadulhos

Lambão – Pessoa desleixada, mandicante
Latada - Ramada

Lareiro – Varas onde se pendura o fumeiro, pau de varrer o forno
Laronas - Alheiras azedas
Larouga – Cerejas verdes

Lazarado - Cheio de fome

Leiranco – rato grande

Letria - Aletria

Listo - Esperto, vivaço

Livreta - Agenda

Loa – Conversa fiada

Lumiacos - Tufos verdes criados em água estagnada

Quilé - Coisa pouca. Mais usado na negativa "Nem quilé - Rigorosamente nada"

Malata – Geada

Mamão - Rebento inútil

Mandicante - Fulano

Manhuça- Feixe de coisas que se podem abranger com a mão

Maquia...porção de farinha ou grão que os moleiros recebem pelo trabalho

Marafolho - Ramo de cerejas

Marafona - Mulher mal vestida
Matrajela - Marosca

Mercar- comprar

Merondo – montículo

Merouço – montículo ligeiramente maior que merondo

Merujar - Chuviscar

Mijacão –Todos os cogumelos não comestíveis

Mocanca – Produtos vários

Mochana - Faúlha

Moinante – Bom vivant

Molida – Artefacto para o pescoço dos animais

Môcas - Ranho

Moreia – Grande monte de molhos de palha na eira

Morneiro – Monte de molhos de palha

Mulo, estar de - De trombas, amuado

Munifates - Gestos idiotas

Niscaros - cogumelos
Palafrão - Pessoa gorda e mal feita

Palaio -Chouriço de pão

Palhada...vagens secas dos feijões

Palhitos - Fósforos

Parabena - Ventania

Parada – Local de cobrição de animais

Pardieiro - Casebre

Parreco - Pato

Passota - Sêca, encarquilhada

Peldrecha – Pele da barriga do porco

Pernóstico - Vaidoso
Perrão - Chorão compulsivo
Picar - cortar lenha
Pinalho – extremidade do carro

Pincha Carneira - Cambalhota

Pita – Galinha

Píveda – garganta, fanfarronice
Pocho - Cachorro

Pondão – Pessoa lenta

Portelo – Entrada de propriedade

Pote -  panela de ferro, com três pés, para cozinhar no lume e alambique de fazer aguardente

Poula – Terreno árido
Rabanada - ...de vento. Rajada de vento

Rabeira - Restos de centeio depois de peneirado

Raboto – Sem rabo, gay
Racha- cavaco de lenha
Ranheira - Coceira
Rassada (de sol) - Passagem de sol por entre nuvens
Responso - Reza
Rigueiro- ribeiro
Rijar - Fritar
Rilhar - Comer roendo

Roca – Roco, Frade

Roda – Conjunto de molhos de malha em espiral

Rodilha – Pano de cozinha

Rodilheira – Pessoa que cria mal-estar

Saborreiro – Neblina quente de verão, pão mal cozido

Saçamelo- pronuncia mal certas palavras

Saltão- gafanhoto

Segar - Ceifar

Serranço - Fundo das costas

Sibo - Pedaço

Sinceno - Nevoeiro

Sombreiro – Guarda-chuva

Sorça – Vinha d’alhos
Soutar - Colher tudo

Sureto – Sem rabo

Tãlha – Recipiente de barro

Tantinho - Um pedacinho

Tarandeira = utensílio para por o pão

Tártaro – Insecticida para frutos

Tartaranho - Milhafre

Tascos - Resíduo de linho

Tempre – Tripé para fritar

Termino - juízo, tino

Termoncela – Artefacto para lavrar

Tesão - Ferramenta para fechar a boca dos tonéis

Tiés -Membrana

Timoeiro -

Tissão - Brasa grande

Tomba-louceiros - Desajeitado

Toutiço - Inchaço

Tralhar- coagular, solidificar

Trocha-Mocha - À maluca

Trocho – Estrutura grossa da couve
Upado - Inchado
Verdasca – Vara fina e verde

Vergalheira – Parte do porco
Vincelho - Envolvente, normalmente de palha, para apertar molhos

Xamorro – Doença de coelhos

Xiba - Cabra

Xoino - Amante

Xotar - Enxotar

Zarcão – Pessoa muito feia

Zerbada - Chuvada forte

Zorra – Pião grande

Zorra – Pessoa muito parada.

Santa Valha, 01-03-2011

(Última actualização em 01 de Março de 2015)