VINHOS ROMANOS E SUA HISTORIA
O vinho
chegou no sul da Itália através dos gregos a partir de próximo de 800 a.C. No
entanto, os etruscos, já viviam ao norte, na região da actual Toscana, e
elaboravam vinhos e os comercializavam até na Gália e, provavelmente, na
Borgonha. Não se sabe, no entanto se eles trouxeram as videiras de sua terra de
origem (provavelmente da Ásia Menor ou da Fenícia) ou se cultivaram uvas nativas
da Itália, onde já havia videiras desde a pré-história. Deste modo, não é
possível dizer quem as usou primeiro para a elaboração de vinhos. A mais antiga
ânfora de vinho encontrada na Itália é etrusca e data de 600 a.C. O ponto
crítico da história do vinho em Roma foi a vitória na longa guerra com o Império
de Cartago no norte da África para controlar o Mediterrâneo Ocidental entre 264
e 146 a.C. Após as vitórias sobre o general Aníbal e, a seguir, sobre os
macedónios e os Sírios, houve mudanças importantes.
Os romanos começaram a investir na agricultura com seriedade e a vitivinicultura
atingiu seu clímax.
O primeiro a escrever sobre o tema foi o senador Catão na sua obra "De Agri
Cultura". No entanto, o mais famoso manual foi escrito por um cartaginês, Mago,
e traduzido para o latim e para o grego.
O manual de Mago, mais do qualquer outro estudo, estimulava a plantação
comercial de vinhedos a substituição de pequenas propriedades por outras
maiores. Uma data importante no progresso de Roma foi 171 a.C., quando foi
aberta a primeira padaria da cidade, pois até então os romanos se alimentavam de
mingau de cereais. Agora Roma comia pão e certamente a sêde por vinho iria
aumentar. Começava uma nova era e apereciam os "primeiro-cultivo" vinhos de
qualidade de vinhedos específicos, equivalentes aos "grands crus" de hoje. Na
costa da Campania, mais exatamente na baía de Nápoles e na península de
Sorriento estavam os melhore vinhedos. Dessa época é o maravilhoso "Opimiano"
(em homenagem ao consul Opimius) safra de 121 a.C. do vinhedo Falernum que foi
consumido, conforme registros históricos até125 anos depois. Ainda assim, os
vinhos gregos ainda eram considerados pelos romanos os melhores.
No império de Augusto (276 a.C. - 14 d.C.) a indústria do vinho estava
estabelecida em toda a extensão da Itália que já exportava vinhos para a Grécia,
Macedônia e Dalmácia). Todos os "grands crus" vinham da região entre Roma e
Pompéia, mas a região da costa adriática era também importante, em especial
pelas exportações. Pompéia ocupava uma posição de destaque, podendo ser
considerada a Bordeaux do Império Romano e era a maior fornecedora de vinhos
para Roma.
Após a destruição de Pompéia pela erupção do Vesúvio no ano 79 d.C., ocorreu uma
louca corrida na plantação de vinhedos onde quer que fosse. Plantações de milho
tornaram-se vinhedos, provocando um desequilíbrio do fornecimento a Roma,
desvalorização das terras e do vinho. No ano 92 d.C., o imperador Domiciano
editou um decreto proibindo a plantação de novos vinhedos e de vinhedos pequenos
e mandando destruir metade dos vinhedos nas províncias ultramarítimas. O decreto
parece visar a protecção do vinho doméstico contra a competição do vinho das
províncias e manter os preços para o produtor. O decreto permaneceu até 280
d.C., quando o imperador Probus o revogou. Tudo que se queira saber sobre a
vitivinicultura romana da época está no manual "De Rústica" (Sobre Temas do
Campo), de aproximadamente 65 d.C, de autoria de um espanhol de Gades (hoje
Cádiz), Lucius Columella. O manual chega a detalhes como: a produção por área
plantada (que, surpreendentemente, é a mesma dos melhores vinhedos da França de
hoje), a técnica de plantio em estacas com distância de dois passos entre elas
(mais ou menos a mesma técnica usada hoje em vários vinhedos europeus), tipo de
terreno, drenagem, colheita, prensagem, fermentação, etc Quanto ao paladar, os
romanos tinham predileção pelo vinho doce, daí fazerem a colheita o mais
tardiamente possível, ou, conforme a técnica grega, colher o fruto um pouco
imaturo e deixá-lo no sol para secar e concentrar o açúcar (vinhos chamados "Passum").
Outro modo de obter um vinho mais forte e doce era ferver, aumentando a
concentração de açúcar (originando o chamado "Defrutum") ou ainda adicionar mel
(originava o "Mulsum"). Preparavam também o "semper mustum" (mosto permanente),
um mosto cuja fermentação era interrompida por submersão da ânfora em água fria
e, portanto, contendo mais açúcar. Esse método é o precursor do método de
obtenção do "Süssreserve" das vinícolas alemãs. Ainda no tocante ao paladar, é
interessante lembrar que os romanos sempre tiveram predileção por temperos
fortes na comida e também se excediam nas misturas com vinhos que eram fervidos
em infusões ou macerações com hervas, especiarias, resinas e denominados "vinhos
gregos" em virtude dos gregos raramente tomarem vinhos sem temperá-los. Plínio,
Columella e Apícius descrevem receitas bastante exóticas. Quanto a idade, alguns
vinhos romanos se prestavam ao envelhecimento, os fortes e doces expostos ao ar
livre e os mais fracos contidos em jarras enterrados no chão. Um recurso usado
para envelhecer o vinho era o "fumarium", um quarto de defumaçào onde as ânforas
com vinho eram colocadas em cima de uma lareira e o vinho defumado, tornando-se
mais pálido, mais ácido e com cheiro de fumaça. Galeno (131-201 d.C.), o famoso
grego médico dos gladiadores e, posteriormente médico particular do imperador
Marco Aurelio, escreveu um tratado denominado "De antidotos" sobre o uso de
preparações à base de vinho e ervas, usadas como antídotos de venenos. Nesse
tratado existem considerações perfeitas sobre os vinhos, tanto italianos como
gregos, bebidos em Roma nessa época: como deveriam ser analisados, guardados e
envelhecidos A maneira de Galeno escolher o melhor era começar com vinhos de 20
anos, que se esperava serem amargos, e, então, provar as safras mais novas até
chegar-se ao vinho mais velho sem amargor. Segundo Galeno, o vinho "Falerniano"
era ainda nessa época o melhor (tão famoso que era falsificado com frequência) e
o "Surrentino" o igualava em qualidade, embora mais duro e mais austero. A
palavra "austero"é usada inúmeras vezes nas descrições de Galeno para a escolha
dos vinhos e indica que o gosto de Roma estava se afastando dos vinhos espessos
e doces que faziam da Campania a mais prestigiada região. Os vinhedos próximos a
Roma, que anteriormente eram desprestigiados por causa de seu vinhos ásperos e
ácidos, estavam entre os preferidos de Galeno. Ele descreveu os "grands crus"
romanos, todos brancos, como fluídos, mas fortes e levemente adstringentes,
variando entre encorpados e leves. Parece que o vinho tinto era a bebida do dia
a dia nas tavernas. Depois de Galeno não existem registros da evolução do
paladar de Roma em relação aos vinhos. Certamente havia mercado para todos os
gostos nessa metrópole que nessa época era a maior cidade do mundo Mediterrâneo
e já possuía mais de um milhão de habitantes! É claro que a maior demanda era
para o vinho barato que geralmente vinha de fora da península. É interessante
notar que, desde a época de Galeno, o vinho da Espanha e da Gália começava a
chegar em Roma. Um dos efeitos da expansão dos vinhedos nas províncias é que a
produção em massa em regiões da Itália que abasteciam Roma tornou-se menos
lucrativa e muitos vinhedos tornaram-se passatempo de nobres. Um desincentivo
aos produtores italianos foi a criação, por volta de 250 d.C., de um imposto que
consistia em entregarem uma parte do vinho produzido ao governo (para as rações
do exército e para distribuição à ralé que tinha a bebida subsidiada). Talvez
para remediar esta situação, em 280 d.C. , o imperador Probus, revogou o já
mencionado decreto editado (e amplamente ignorado!) por Domiciano em 92 d.C.,
proibindo o plantio de vinhedos. Probus inclusive colocou o exército para
trabalhar no cultivo de novos vinhedos na Gália e ao longo do Danúbio. No
entanto, foi inútil, pois o declínio do Império Romano estava começando.