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 GORGOÇO

 

 

                Gorgoço é uma aldeia anexa da freguesia de Santa Valha, com cerca de cinquenta residentes e situa-se a três quilómetros a nascente da Freguesia, no cume vertente direito do rio Rabaçal.

                É rodeado de majestosos pinhais, com alguns frondosos sobreiros à mistura, tem uma fonte de mergulho de origem romana, uma capela no centro da aldeia, e o seu Padroeiro é São Bartolomeu. A Festa em sua honra é dia 24 de Agosto. Também costumam festejar a Santa Barbara a 4 de Dezembro.

                Trata-se de uma aldeia muito despovoada, fruto da emigração dos seus filhos à procura de uma vida melhor, e ainda, de uma (muito) fraca via de acesso, sem dar seguimento a outras localidades, que contribuiu também para o seu isolamento. Esta via só foi melhorada em 1989 com aplicação de um piso de alcatrão, obras inauguradas pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal, Eng. Francisco Tavares, em 17/09/1989. A substituição das fontes por bicas, aconteceu por volta de 1966. A luz eléctrica, que veio substituir a candeia e o lampião a petróleo ou azeite, só chegou em 1976. Mais tarde, início da década de 1990, o cântaro e a remeia, ficaram pendurados, para dar lugar à água canalizada ao domicílio. Hoje, uma grande parte das casas, encontram-se desabitadas, ou semi-abandonadas, e a maior parte delas, só arejam nas férias anuais de verão.

                 Outrora, antes da década de 1970, chegaram a residir nesta localidade, mais de 200 pessoas, e a escola primária, com cerca de quarenta  alunos, era  o “espelho” do crescimento da população.  Recordamo-nos, que nesse tempo era fácil arranjar mocidade para jogar uma partida amigável de futebol contra as aldeias vizinhas.

                Dois quilómetros mais a sul, corre um rio de águas límpidas e cristalinas, “que ainda pode ser considerado dos menos poluentes da Europa”, onde é o habitat de excelentes espécies piscatórias, tais como: barbo, boga, escalo, truta, enguia e perca-sol. Também outros animais de água doce aí abundam, como o cágado e a lontra, que ainda desfrutam deste ambiente natural e saudável. Ainda se continua a manter a tradição, de, em dia de festa do Padroeiro, os peixes do rio fritos de/em escabeche, serem “reis” à mesa.

                Quem pretender gozar um pouco do lazer do rio, vai encontrar uma praia fluvial e um parque de merendas. Este rio, de nome Rabaçal, faz fronteira com o Concelho de Mirandela, Distrito de Bragança. Se o potencial turístico do rio coadjuvado com a montanha, fosse devidamente explorado, seria para esta aldeia, um factor de desenvolvimento e uma mais-valia económica.

                Gorgoço é terra de gente rural, que ainda teima em dar continuidade a uma agricultura pobre e em decadência, onde a ajuda dos animais de trabalho tem vindo a ser progressivamente substituída por alguma semi-mecanização. Na agricultura, destacam-se não só a excelente qualidade do  vinho e do azeite, como também, a variedade de frutas e legumes, dado o local estar inserido num micro-clima ideal para tudo que diz respeito á lavoura. Nos lugares mais abrigados das encostas do rio, os figos são novidade no início do mês  de Junho. Contudo, o vinho e o azeite é só o que resta de uma agricultura sustentável como principal fonte de receita do lavrador, e ainda alguma pastorícia de gado ovino que também continua a resistir. A cortiça e as madeiras já são poucas, em virtude de continuarem a ser castigadas pelos incêndios.

                Na actividade comercial chegaram a existir, um ou dois moinhos ou azenhas (Mário Palas e Outros), situado(s) na ribeira da Coutada,  algumas tavernas (Manuel Vicente e Carlos Vaz) , pequenos comércios (Aniceto Bouça e Alberto “Guarda”) , um  barbeiro (Madaleno), negócio de cortiça (Quintelas e José Bouça), do sarro, extraído das pipas do vinho (Albino Váz e Vicente) e peles de animais – peleiro - (Albino Vaz “conhecido também por Spínola”) e , mas tarde (1990), um café-mercearia (Alexandre Palas). Destas todas  pequenas actividades, já nada existe, e os costumes e tradições culturais, vão-se perdendo com o passar do tempo.

                 Na gastronomia, destacam-se o tradicional folar da Páscoa, as cascas ou casulas com carne de porco cozida, o borrego/cordeiro assado no forno e ainda os peixinhos do rio fritos; “todas estas iguarias deverão ser acompanhadas com o bom néctar, que as videiras de castas tradicionais (seculares) da terra fornecem, e que recomendamos”. Chegou a existir na aldeia um forno comunitário que dava serventia ao povo para fabricar o pão de centeio, a bola calcada, os folares, e cozinhar alguns assados, sobretudo em dias festivos.  

                A “antiga” escola primária (de uma só sala/mista), já desactivada há bastantes anos por falta de alunos, deu lugar, este ano (2009), a um centro de convívio, único local, onde as gentes deste povo poderão passar um pouco do tempo livre, conversar, ver televisão, beber um café ou uma bebida fresca, comer um petisco, ou até jogar uma partida de sueca. A inauguração oficial aconteceu a 23 de Março do corrente, com a presença honrosa dos Srs. Presidente da Câmara e restantes Vereadores e Srs. Presidente da Assembleia de Freguesia, Presidente da Junta  e restantes Membros. Aproveitamos a oportunidade para deixar aqui um bem-haja à Junta de Freguesia, pela excelente ideia de ter restaurado este imóvel e ter convertido o espaço para este fim, pois, se assim não viesse a acontecer, seria mais um património público, virado para o esquecimento e a entrar em ruínas.

                O Elenco Municipal aproveitou ainda a visita para verificar no local a conclusão de todos os trabalhos de melhoramento acabados de efectuar na aldeia, tais como: obras completas de saneamento, pavimentação de ruas e largos e melhorias nas canalizações da rede de águas, na luz pública e ainda, no estradão que liga ao rio. Estas obras vieram trazer mais qualidade de vida às pessoas. Só foi pena que não trouxessem novidades quanto ao início da construção da ponte sobre o rio Rabaçal, obra em parceria com o Município de Mirandela, acordada verbalmente entre as duas partes numa reunião conjunta junto ao rio, na presença do povo do Gorgoço e da Bouça. Vai para dois anos e a promessa continua por cumprir. Trata-se de um anseio antigo da população, que tarda em chegar.

                Há meio século atrás, chegou a laborar na aldeia um lagar de azeite artesanal, (propriedade dos Quintelas), puxado por animais, onde um peso num fuso de madeira, servia de prensa à massa ou baga, para a fabricação do azeite. As águas-russas, (churras, como lhe chamavam o povo), eram canalizadas em rasgos na pedra para as talhas, também em pedra, que serviam na filtragem do puro e genuíno azeite. De todo o modo, só foi pena que esse património cultural, tivesse sido totalmente destruído (enterrado no local), aquando da demolição do imóvel, para dar lugar a uma casa de habitação, e não tivesse sido preservado em lugar público (praça), para as gerações vindouras virem a tomar conhecimento que essa indústria existiu e como funcionava.

                No património religioso edificado, destacamos:  a Capela  de São Bartolomeu, (restaurada há alguns anos atrás, sob orientação do Sr. Padre Alberto da Eira), a Capela do Senhor do Bonfim, a Capela do Nosso Senhor da Ajuda, e as Alminhas, localizadas na margem direita do Rio Rabaçal, dignas de uma visita, conforme referido no Link do Roteiro Turístico do nosso Site.

                Para além deste património religioso “público” verifica-se a existência de outras pequenas capelas e alminhas particulares, sinal de uma população de muita religiosidade.

                A aldeia do Gorgoço, foi local de passagem de peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, e de Cavaleiros do Exército, vindos de Bragança com destino a Chaves, ou vice-versa, constando também terem transportado o correio da época. Para o comprovar, existem ainda vestígios dessa passagem, em dois caminhos rurais e alguns escritos ou símbolos, lavrados em pedras. Também foi caminho de feireiros e/ou negociantes, que se dirigiam a pé ou a cavalo para a feira da Torre de Dona Chama, do concelho de Mirandela, talvez a principal feira de gado da região; - disseram-nos, que em dias de feira, chegavam a passar no Gorgoço, mais de trinta juntas de bois para negócio, não falando, é claro, nos restantes animais de carga e rebanhos de gados -. A maior parte dessas pessoas atravessavam o rio em barcas, dirigidas por barqueiros da aldeia, que transitavam as duas margens.

                É tudo isto o que os  “Gorgocenses” têm para contar da sua terra, das suas gentes, dos seus costumes e do seu património, quer cultural, quer edificado. Orgulham-se do seu passado e continuam a amar o presente, sempre com esperança no futuro.

 Agosto de 2009

 

História: “As Moscas do Gorgoço”:….,  

                Certo dia, Uma pobre mulher, mais o seu filho, de uma localidade próxima, iam a caminho do Gorgoço, quando repararam que ao lado do caminho onde seguiam, se encontrava um carneiro morto, deixado por um pastor, já cheio de moscas e vespas. Dada a dificuldade da vida, a mulher e o filho, de imediato resolverem carregar o carneiro às costas, para o levar para casa, a fim ser comido com a restante família. Como não verificaram bem que tipo de insectos é que estavam pousados no animal, as vespas, mais agressivas, começaram logo a morder com o seu ferrão afiado os dois forasteiros, tendo um deles exclamado alto: - PORRA!!! QUE AS MOSCAS DO GORGOÇO, É QUE MORDEM!?!?.

Nota: Ainda se continua a dizer na freguesia e aldeias vizinhas.…., porrraaa!! que ….“mordem  ou ferram”, como as moscas do Gorgoço!!!.

               Outra versão contada, foi, que em vez de mãe e filho, teria sido um pobre cigano, chamado de “Medo”(por ser muito feio), e que o pastor do gado foi o falecido Augusto Moreiras, conhecido também na aldeia pelo “ Ferragacho”. Não se trata de uma lenda, mas sim de uma história verdadeira, passada na década de 1940 ou 1950.