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PARDELINHA
Pardelinha é uma pequena aldeia anexa da freguesia de Santa Valha, actualmente com cerca de cinquenta residentes. Situa-se a três quilómetros a norte da Freguesia.
É rodeada, a norte e noroeste, por montanhas com alguma altitude; tem um fontenário com duas bicas datado de 1928, onde brota água límpida, de óptima qualidade e com bastante frescura no verão, cuja visita recomendamos. Tem também uma Capela no centro da aldeia e seu Padroeiro é o Santo Antão. A Festa em sua honra é dia 17 de Janeiro.
No centro da aldeia, existe pequeno largo ou praceta, onde o povo se costuma reunir em horas de descanso. É o espaço mais nobre da terra. Tem uma bica datada de 1966 com água potável de excelente qualidade e quantidade, canalizada de um chafariz mais acima, lugar muito conhecido no nosso concelho. Tem também uma pedra de um antigo moinho/azenha (de rodízio) de moer cereal, conhecido pelo moinho do lugar de Valongo ou Avessada, que serve de mesa para quem pretender jogar uma partida de sueca, ou até mesmo para quem nos visite ou de passagem poder comer o farnel.
Outrora, antes da emigração (1970), chegaram aqui a residir mais de cento e trinta pessoas. Todos esses habitantes trabalhavam na agricultura com apoio de animais. Também o gado bovino, ovino e caprino foi fonte de receita de algumas famílias. Recordamo-nos das corpulentas e possantes juntas de bois ou vacas de trabalho que existiram, entre outras, as de Manuel Alves, mais conhecido por “Manuel da Amélia”. Actualmente só existe a junta de vacas de trabalho de Augusto Fontoura Lopes. Também só uma parelha de burras(os) jungidas (junguidas) para o trabalho, de Zeferino Alves, que há uma década atrás teve vacas de trabalho. A batata, a castanha, o cereal e a carne em geral, sempre foram da maior qualidade, tendo em conta o clima existente.
Desta tão próspera actividade, hoje só restam: alguma lavoura já semi-mecanizada, algum negócio de madeiras e pastorícia de gado ovino.
Por volta de 1977, as velhas candeias e candeeiros a petróleo, foram penduradas na parede para dar lugar à moderna luz eléctrica. A água canalizada ao domicílio, o saneamento básico e o melhoramento da estrada (piso de alcatrão), mais tarde, finais da década de 1990 ou início de 2000.
Por ser uma terra de gado lanígero, em Pardelinha, não havia lar nenhum onde não existisse, lã de ovelha, um fuso, e uma roca, para fabricar as meias, também conhecidas por “carpins”, que as pessoas usavam para calçar os tamancos, também conhecidos por socos(as), na maior parte do ano.
Chegaram a existir na aldeia, dois barbeiros (Artur Serra e Cândido), três moleiros, vários carvoeiros (Constantino, “Chico Escuro” e outros). Todavia, dessas artes, também já nada tudo acabou. A Escola Primária (mista e de uma só sala), já desactivada há alguns anos por falta de alunos, era o orgulho da época de uma aldeia viva e em crescimento. Também o campo de futebol dava serventia à mocidade e não era difícil arranjar na terra duas equipas para jogar entre si. Hoje, tanto a escola, como o campo, encontram-se já no livro de memórias, para mais tarde recordar.
Para evitar a degradação da (privada) instalação escolar, a Junta de Freguesia procedeu à reconversão desta, num Centro de Convívio, recentemente inaugurado (03/10/2009), com a presença, entre outros convidados, do Senhor Presidente da Câmara Municipal, Engº. Francisco Tavares.
Na gastronomia, destaca-se o “genuíno” fumeiro (caseiro) artesanal, e a festa em honra do Santo Padroeiro, continua a ser o local de promoção e venda, que ainda se continua a manter...; digamos: o fumeiro ainda é Rei no dia de Festa. O forno a lenha comunitário mantém-se em funcionamento para cozer o pão de centeio, folares, assados e outras iguarias, sabedorias ancestrais que ainda permanecem.
No tocante ao património cultural arqueológico, Pardelinha também tem coisas para visitar: existem muito perto da aldeia, ou seja, a aproximadamente 300 metros para nascente da Capela de Santo Antão e a 100 metros do regato, três lagares de vinho cavados/escavados na rocha, nos lugares denominados por Fonjo e Ladeira, que tudo indica serem originários dos mouros ou romanos.
Ainda, a sul da mesma Capela, também muito perto, no lugar denominado por “Fragas da Moura”, podemos ver algumas escavações esculpidas em diversas fragas/rochas, uma fraga de formato arredondado com um pequeno orifício junto ao solo, que dá acesso ao interior da mesma, onde, noutros tempos, alguns jovens, talvez por mera curiosidade lá conseguiram entrar e a quem o povo dá o nome de “Talha da Moura”. Provavelmente existiu uma lenda desse local, mas que ninguém nos soube dizer ou contar. Um pouco mais ao lado, podemos encontrar também uma fraga lisa bastante inclinada denominada por escorregadouro, onde outrora, muitas crianças e mesmo bastantes adultos rasgaram as calças e as saias.
A cruz que se encontra no interior do cemitério, conhecida por “Cruz do Calvário”, foi transferida, há muitos anos, do lugar denominado por lameiras ou calvário, perto também da Capela de São Antão. Ainda hoje é possível ver o local onde assentava a base da cruz. Disseram-nos, que já ninguém se recorda dessa transferência, mas que tudo indica ter sido feita aquando da construção inicial do cemitério.
Não podemos deixar de referir uma pessoa ilustre da terra (já falecida), que praticou o bem material e pessoal a esta aldeia, sobretudo ao seu povo, como médico, trazendo algum conforto naquela altura, o Dr. Olímpio Seca....., médico dos pobres como era conhecido. Não obstante residir em Vilarandelo, tinha uma das melhores casas agrícolas de Pardelinha.
É tudo isto que identifica esta terra, as suas gentes, o seu passado, os seus costumes, e todo o seu património. Visite este postal ilustrado da freguesia de Santa valha e verá que valeu a pena.
Nota: No livro "Valpaço-lo-Velho", está referido o seguinte: Primitivamente escreveu-se Paradelinha, que é a forma contracta de Paradelhas ; dizem alguns que o toponímico Pardelinha designa povoação que pagava menor contribuição ou quantidade de foro.
Novembro de 2009
(Última actualização: Outubro/2011).
História de um pobre pedinte em Pardelinha…,
Certo dia de inverno, um pobre pedinte de saco às costas, chegou a Pardelinha. Como trazia o estômago vazio, logo de imediato se pôs a pedir esmola e comida de porta em porta.
Aproximando-se o final do dia, o pedinte pediu que lhe arranjassem um abrigo quente para pernoitar. Alguém ouviu o seu pedido e de imediato, um bondoso, acolheu-o numa divisão térrea muito escura que tinha perto do curral e fechou-lhe a porta. Acontece, porém, que nunca mais se lembrou do pobre coitado e, só mais tarde, “ após três dias e três noites passadas”, se recordou que o mendigo ainda lá estava fechado. O pedinte, saiu então do “aposento” um pouco tonto no tempo e da noitada que passara, e foi-se embora; o que lhe valeu foi umas côdeas de pão que tinha no saco.
Chegado a uma aldeia vizinha, Fiães, apareceu-lhe uma matilha de cães, que vinha na sua direcção, e ele, com medo, tentou pegar numa pedra para se defender. Como não conseguiu arrancar a pedra do chão, devido ao gelo da geada que tinha caído na noite anterior, o homem exclamou, dizendo: porra!…, - noites grandes de Pardelinha e, em Fiães, prendem as pedras e soltam os cães…., não sei que mais me irá acontecer!.
Obs: “Esta história foi mesmo verídica e o aposento escuro do pobre foi junto à casa de Álvaro Alves, que ainda hoje pode ser visto. Passou-se em meados da década de 1940 ou 1950 (?).”